terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A infância de Jesus e o presépio

Caros amigos, em dezembro próximo passado tive a oportunidade de ler o livro "A infância de Jesus" do Papa Bento XVI, o qual concluiu sua obra referente à Jesus de Nazaré, pois o terceiro volume publicado encerra a "trilogia". Vale ressaltar que este último volume é bem menor, mas não mais importante e rico em informações e meditações como os seus precedentes. Assim, recomendo sobremaneira a todos a leitura dos três livros, sendo: Jesus de Nazaré (vol. 1), Jesus de Nazaré: Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição (vol. 2); e A infância de Jesus (vol. 3), todos publicados pela Ed. Planeta.

Nessa postagem, detenho-me um pouco mais no último volume, mas precisamente na "celeuma" referente ao presépio. Digo "celeuma" devido às constantes más interpretações feitas por muitos, especialmente a mídia secular, frente aos escritos do Papa Bento XVI. Logo após a publicação do livro, foi noticiado exacerbadamente que o Papa "alterara a cena do presépio" e colocava em xeque um fato histórico e muito significativo para os cristãos católicos. Tudo isso por causa da seguinte frase da página 61: "Aqui, no Evangelho, não se fala de animais".

É impressionante como distorcem as palavras do Papa!!! Aliás, é mais impressionante ainda como há muitos que acreditam nas falácias e más interpretações sem buscar melhores informações a respeito. Por isso, deixo aqui na íntegra parte dessa meditação belíssima do Papa em relação ao presépio:

"Agostinho interpretou o significado da manjedoura com um pensamento que pode, à primeira vista, parecer quase inconveniente, mas, se examinado mais atentamente, encerra uma verdade profunda. A manjedoura é o lugar onde os animais encontram o seu alimento. Agora, porém, jaz na manjedoura Aquele que havia de apresentar-Se a Si mesmo como o verdadeiro pão descido do céu, como o verdadeiro alimento de que o homem necessita para ser pessoa humana. É o alimento que dá ao homem a vida verdadeira: a vida eterna. Desta forma, a manjedoura torna-se uma alusão à mesa de Deus, para a qual é convidado o homem a fim de receber o pão de Deus. Na pobreza do nascimento de Jesus, delineia-se a grande realidade, em que misteriosamente se realiza a redenção dos homens.

Como se disse, a manjedoura faz pensar nos animais que encontram nela o seu alimento. Aqui, no Evangelho, não se fala de animais; mas a meditação guiada pela fé, lendo o Antigo e o Novo Testamentos correlacionados, não tardou a preencher esta lacuna, reportando-se a Isaías 1, 3: "O boi conhece o seu dono, e o jumento o estábulo do seu senhor; mas Israel, meu povo, nada entender". 

Peter Stuhlmacher observa que provavelmente teve influência também a versão grega (dos Setenta, "LXX") de Habacuc 3,2: "No meio de dois seres vivos, (...) tu serás conhecido; quando vier o tempo, tu aparecerás". Aqui, como os dois seres vivos, entende-se evidentemente os dois querubins que, segundo Êxodo 25, 18-20, estavam colocados sobre a cobertura da arca da aliança, indicando e simultaneamente escondendo a presença misteriosa de Deus. Assim a manjedoura tornar-se-ia, de certo modo, a Arca da Aliança, na qual Deus, misteriosamente guardado, está no meio dos homens e à vista da qual chegou, para "o boi e o burro", para a humanidade formada por judeus e gentios, a hora do conhecimento de Deus. 
Portanto, na singular conexão entre Isaías 1, 3; Habacuc 3, 2; Êxodo 25, 18-20 e a manjedoura, aparecem os dois animais como representação da humanidade, por si mesma desprovida de compreensão, que, diante do Menino, diante da aparição humilde de Deus no estábulo, chega ao conhecimento e, na pobreza de tal nascimento, recebe a epifania que agora a todos ensina a ver. Bem depressa a iconografia cristã individuou este motivo. Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento" (Joseph Ratzinger - Papa Bento XVI - Livro A Infância de Jesus, pp. 61-62).

Desse modo, o Papa Bento XVI oferece mais esse tesouro de conhecimento exegético para que aprendamos a amar mais Nosso Senhor Jesus Cristo e a Sagrada Família. Vale ressaltar o requinte das informações trazidas pelo autor nas minúcias da infância de Jesus que são relatadas no Evangelho de forma muito sucinta, como a genealogia e o nascimento do Menino-Deus.

Além do mais, o Papa dá ênfase as figuras da Virgem Maria e do glorioso São José em diversos momentos do livro. Escolhi estas duas passagens que muito me chamaram atenção:
"Ao criar a liberdade, de certo modo, Deus se tornou dependente do homem; o seu poder está ligado ao 'sim' não forçado de uma pessoa humana. Ora, Bernardo afirma que, no momento do pedido a Maria, o céu e a terra como que suspendem a respiração. Dirá 'sim'?! Ela demora... Porventura lhe será obstáculo a sua humildade? Só por esta vez - diz-lhe Bernardo - não sejas humilde, mas magnânima! Dá-nos o teu 'sim'! Esse é o momento decisivo, em que dos seus lábios, do seu coração, surge a resposta: 'Faça-se em mim segundo a tua palavra'. É o momento da obediência livre, humilde e simultaneamente magnânima, na qual se realiza a decisão mais sublime da liberdade humana" (p. 37).

"A designação de José como homem justo (zaddik) vai muito além da decisão tomada naquele momento: oferece um retrato completo de São José e, ao mesmo tempo, insere-o entre as grandes figuras da Antiga Aliança, a começar por Abraão, o justo. Pode-se dizer que a forma de religiosidade presente no Novo Testamento se resume a palavra 'fiel', enquanto, no Antigo Testamento, o conjunto de uma vida se sintetiza segundo a Escritura no termo 'justo'" (p. 39).

Por fim, fica a dica para todos aqueles que acompanham os ensinamentos do Papa, para que antes de qualquer julgamento ou crítica feita pela mídia, obtenhamos maiores esclarecimentos sobre os fatos ou palavras ditas.

De um indigno escravo da Cruz e da Virgem Maria

Nenhum comentário: