Recebi no meu e-mail essa belíssima reflexão sobre a memória (23/01) do casamento da Virgem Maria e do Glorioso São José, publicada pela agência ZENIT, feita pelo Pe. Mario Piatti, diretor da revista Maria de Fátima,. Essa festa estabelecida em 23 de janeiro de 1961, durante o pontificado do Papa João XXIII, é uma oportunidade para que os casais encontrem em Maria e José, o verdadeiro modelo de família e amor mútuo:
"O evangelho de Lucas nos diz que o Salvador nasceu num estábulo pobre
e humilde: não havia lugar para Jesus, Maria e José nas estalagens de
Belém. Uma família (e era a sagrada família de Nazaré) não foi acolhida
num ambiente adequado, apesar do iminente nascimento daquele Menino:
imagem certamente profética, prelúdio das incontáveis e recorrentes
rejeições que, ao longo da história, sofreram e ainda sofrem os
discípulos do Senhor no seu trabalho de evangelização. Não
havia lugar para aquele jovem casal nas hospedarias: como há cada vez
menos espaço para a "família tradicional" no panorama cultural e nos
costumes do nosso tempo. Promovem-se, agora, inclusive no âmbito
legislativo, outras "formas" de convivência: substitutos, mais ou menos
desajeitados, da instituição da família, da qual pretenderia
preservar-se, pelo menos aparentemente, a "estrutura", mas renegando-se,
de fato, a sua natureza , caráter e missão.
Uma guerra foi deflagrada para minar os alicerces da nossa
civilização. O conflito está em ato, sustentado, paradoxalmente, por
aqueles que dizem defender os “sagrados direitos civis”, mas que, na
prática, apagam a verdade do homem e favorecem a deriva moral de
magnitude e gravidade sem precedentes que está varrendo o mundo. Foi invocada no passado, e ainda é, a "Deusa Razão" contra os crentes
tidos por irracionais, mas a fé constitui agora o último bastião
razoável que defende o homem de si mesmo e da sua fúria assassina e
suicida. O pecado, qualquer pecado, na grande e milenar reflexão da Igreja,
sempre foi entendido como um gesto irracional, contrário aos ditames da
reta razão, e desumano, dirigido contra o nosso verdadeiro bem. Em nome
de uma Razão cínica e fria, foram planejados e executados os crimes mais
hediondos: da crueldade dos campos de concentração e do gulag aos
genocídios e expurgos em massa; foram introduzidos na vida e na
mentalidade das pessoas, como se fossem simples e inocentes "práticas
médicas", a tragédia do aborto, a manipulação genética, a eutanásia.
A luta contra a vida e contra a família sempre tem uma raiz perversa e
diabólica. Não por acaso, o livro da Gênese apresenta a "primeira
família" mediante uma denúncia do trabalho sutil de Satanás, dedicado,
desde o início, a obstaculizar e destruir os projetos do Criador. Nosso
inimigo desencadeia incompreensões, ódios e suspeitas contra o plano
original de Deus, mesmo sem nunca podê-lo comprometer definitivamente. Lutar para apagar esse bem, que é o casamento e a vida dos filhos,
confiado hoje pelos céus ao coração de um homem e de uma mulher, nos
leva novamente ao cenário trágico de Sodoma e Gomorra: cidades
destruídas não pela fúria devastadora de uma divindade vingativa e
cruel, mas lançadas inexoravelmente no abismo do vício e vítimas das
suas próprias contradições.
O "contra-ataque do céu", em face da profanação desenfreada da vida e
da família, não se baseia em raciocínios complexos, nem invoca
tribunais ou inquisições: ao contrário, apela mais uma vez ao bom senso,
à evidência inscrita no coração das coisas e esculpida no santuário da
consciência. Os desafios frequentes e insistentes do mundo exigem uma "guerra
cultural" clara, documentada e apaixonada, mas nunca ofensiva nem
remissiva: os riscos que estão em jogo são simplesmente altos demais. A
resposta mais bonita passa pela santidade, vivida, conservada e
compartilhada no coração das nossas casas. Passa através do exemplo de
uma família, modelo perfeito e paradigma de amor para cada lar: a
família de Nazaré, que ensina como amar e servir, e em cujo seio a
alegria é de casa, apesar das tribulações de cada dia. Uma família
especialista no sofrer, no gesto de dar pleno e completo sentido a cada
lágrima e a cada tristeza, vividos como dons da graça e generosamente
oferecidos pela salvação do mundo.
O Coração da Virgem e do seu Esposo se repropõem como modelos
inigualáveis de caridade mútua, em plena conformidade com o plano de
Deus. No ambiente doméstico muito concreto, tecido de trabalho e de
esforço cotidiano, eles souberam lutar juntos pelo único objetivo real
da vida: abraçar a vontade de Deus, andar pelos caminhos da santidade,
alcançar juntos a meta do céu. Eles acreditaram, mesmo sofrendo a
provação mais amarga, e ajudaram um ao outro a acreditar. Contemplamos neles, finalmente, dois corações livres das amarras do
egoísmo e comprometidos com a plena compreensão mútua, com o apreço e
com o apoio do bem um do outro, na comum custódia de um tesouro que
excedeu todas as expectativas possíveis: o próprio Filho de Deus,
confiado aos seus cuidados e ao seu amor.
Que o modelo ideal dos esposos de Nazaré se reflita na imagem dos
nossos lares, dê alívio às nossas preocupações, nos sustente na jornada
dolorosa da vida. Aos desafios crescentes de um mundo enlouquecido, que confunde as
mentes, que apoia e defende leis devastadoras, nós queremos aprender na
escola de Nazaré a ser homens e mulheres de verdade, santos, caridosos,
células vitais de um tecido social desintegrado, mas sedento, mais do
que nunca, da luz e da verdade".
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