quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Dois corações livres para amar

Recebi no meu e-mail essa belíssima reflexão sobre a memória (23/01) do casamento da Virgem Maria e do Glorioso São José, publicada pela agência ZENIT, feita pelo Pe. Mario Piatti, diretor da revista Maria de Fátima,. Essa festa estabelecida em 23 de janeiro de 1961, durante o pontificado do Papa João XXIII, é uma oportunidade para que os casais encontrem em Maria e José, o verdadeiro modelo de família e amor mútuo:

"O evangelho de Lucas nos diz que o Salvador nasceu num estábulo pobre e humilde: não havia lugar para Jesus, Maria e José nas estalagens de Belém. Uma família (e era a sagrada família de Nazaré) não foi acolhida num ambiente adequado, apesar do iminente nascimento daquele Menino: imagem certamente profética, prelúdio das incontáveis e recorrentes rejeições ​​que, ao longo da história, sofreram e ainda sofrem os discípulos do Senhor no seu trabalho de evangelização. Não havia lugar para aquele jovem casal nas hospedarias: como há cada vez menos espaço para a "família tradicional" no panorama cultural e nos costumes do nosso tempo. Promovem-se, agora, inclusive no âmbito legislativo, outras "formas" de convivência: substitutos, mais ou menos desajeitados, da instituição da família, da qual pretenderia preservar-se, pelo menos aparentemente, a "estrutura", mas renegando-se, de fato, a sua natureza , caráter e missão.

Uma guerra foi deflagrada para minar os alicerces da nossa civilização. O conflito está em ato, sustentado, paradoxalmente, por aqueles que dizem defender os “sagrados direitos civis”, mas que, na prática, apagam a verdade do homem e favorecem a deriva moral de magnitude e gravidade sem precedentes que está varrendo o mundo. Foi invocada no passado, e ainda é, a "Deusa Razão" contra os crentes tidos por irracionais, mas a fé constitui agora o último bastião razoável que defende o homem de si mesmo e da sua fúria assassina e suicida. O pecado, qualquer pecado, na grande e milenar reflexão da Igreja, sempre foi entendido como um gesto irracional, contrário aos ditames da reta razão, e desumano, dirigido contra o nosso verdadeiro bem. Em nome de uma Razão cínica e fria, foram planejados e executados os crimes mais hediondos: da crueldade dos campos de concentração e do gulag aos genocídios e expurgos em massa; foram introduzidos na vida e na mentalidade das pessoas, como se fossem simples e inocentes "práticas médicas", a tragédia do aborto, a manipulação genética, a eutanásia.

A luta contra a vida e contra a família sempre tem uma raiz perversa e diabólica. Não por acaso, o livro da Gênese apresenta a "primeira família" mediante uma denúncia do trabalho sutil de Satanás, dedicado, desde o início, a obstaculizar e destruir os projetos do Criador. Nosso inimigo desencadeia incompreensões, ódios e suspeitas contra o plano original de Deus, mesmo sem nunca podê-lo comprometer definitivamente. Lutar para apagar esse bem, que é o casamento e a vida dos filhos, confiado hoje pelos céus ao coração de um homem e de uma mulher, nos leva novamente ao cenário trágico de Sodoma e Gomorra: cidades destruídas não pela fúria devastadora de uma divindade vingativa e cruel, mas lançadas inexoravelmente no abismo do vício e vítimas das suas próprias contradições.

O "contra-ataque do céu", em face da profanação desenfreada da vida e da família, não se baseia em raciocínios complexos, nem invoca tribunais ou inquisições: ao contrário, apela mais uma vez ao bom senso, à evidência inscrita no coração das coisas e esculpida no santuário da consciência. Os desafios frequentes e insistentes do mundo exigem uma "guerra cultural" clara, documentada e apaixonada, mas nunca ofensiva nem remissiva: os riscos que estão em jogo são simplesmente altos demais. A resposta mais bonita passa pela santidade, vivida, conservada e compartilhada no coração das nossas casas. Passa através do exemplo de uma família, modelo perfeito e paradigma de amor para cada lar: a família de Nazaré, que ensina como amar e servir, e em cujo seio a alegria é de casa, apesar das tribulações de cada dia. Uma família especialista no sofrer, no gesto de dar pleno e completo sentido a cada lágrima e a cada tristeza, vividos como dons da graça e generosamente oferecidos pela salvação do mundo.

O Coração da Virgem e do seu Esposo se repropõem como modelos inigualáveis ​​de caridade mútua, em plena conformidade com o plano de Deus. No ambiente doméstico muito concreto, tecido de trabalho e de esforço cotidiano, eles souberam lutar juntos pelo único objetivo real da vida: abraçar a vontade de Deus, andar pelos caminhos da santidade, alcançar juntos a meta do céu. Eles acreditaram, mesmo sofrendo a provação mais amarga, e ajudaram um ao outro a acreditar. Contemplamos neles, finalmente, dois corações livres das amarras do egoísmo e comprometidos com a plena compreensão mútua, com o apreço e com o apoio do bem um do outro, na comum custódia de um tesouro que excedeu todas as expectativas possíveis: o próprio Filho de Deus, confiado aos seus cuidados e ao seu amor.

Que o modelo ideal dos esposos de Nazaré se reflita na imagem dos nossos lares, dê alívio às nossas preocupações, nos sustente na jornada dolorosa da vida. Aos desafios crescentes de um mundo enlouquecido, que confunde as mentes, que apoia e defende leis devastadoras, nós queremos aprender na escola de Nazaré a ser homens e mulheres de verdade, santos, caridosos, células vitais de um tecido social desintegrado, mas sedento, mais do que nunca, da luz e da verdade".

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