segunda-feira, 14 de março de 2011

Partilhas - Madonna House (II)

Partilhas de Madonna House


Mais uma postagem sobre nossos amigos de Madonna House! Infelizmente a comunidade teve perdas e ganhos... Perdas porque três membros faleceram e não estão mais no meio de nós, todavia, ganhos porque Madonna House conta com mais três intercessores junto a Mãe de Deus no céu.

Obs: Marg (trabalhava no setor de publicações de Madonna House) era muito simpática (como são todos eles!). Mesmo sem conhecê-la pessoalmente, trocamos diversos e-mails ano passado na oportunidade em que comprei alguns livros de Catherine. A última mensagem que ela me enviou: "Hi Danilo, God bless. Merry Christmas. Marg" (21/12/2010)
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Queridos amigos,

Mais uma vez estamos enviando “Partilhas” a cada um de vocês. Neste tempo de Quaresma, a realidade da morte e ressurreição do Senhor parece estar mais no centro de nossas vidas… A sobriedade deste tempo litúrgico nos enche de alegria e expectativa diante da Páscoa a ser vivida por cada um de nós à luz da ressurreiçao de Jesus.

Recentemente, três membros de Madonna House faleceram... Marg Stobie e Joan Bryant sofreram um acidente de carro perto de Toronto e Diana Kunz esteve doente por um longo tempo na nossa casa mãe. A morte das duas primeiras foi mais chocante pois foi completamente inesperada. Marg estava dirigindo o carro e parece que ela cochilou e perdeu o controle do carro que capotou... Marg era uma pessoa muito silenciosa e sempre pronta a servir. Ela trabalhou por muito tempo no nosso departamento de Publicações e, ultimamente, ela estava engajada no trabalho dos arquivos de Madonna House. Parece um paradoxo juntar “silêncio” e “publicações”... Mas, na verdade, o silêncio pode ser muito fecundo se ele é receptividade, abertura, antena para a vontade de Deus. Joan Bryant era pintora e ela se especializou em ícones. Ela morava em uma cabana no meio da floresta de pinheiros em Combermere (ver foto abaixo). Sim, ela vivia constantemente na solidão e no silêncio; no “poustinia”(palavra russa que significa “deserto”)... A Catarina, nossa fundadora, escreveu um livro sobre o deserto que foi traduzido em português pelo pe. Héber Salvador de Lima... “Deserto Vivo” é o título do livro e ele foi publicado pela Loyola.

Diana Kunz foi uma pessoa muito especial... Antes de se tornar membro de Madonna House ela trabalhou em um parque de diversões nos Estados Unidos. A sua barraca no parque atraía muita gente pois Diana adivinhava o peso e a idade das pessoas... Muita gente vinha até a sua barraca e o jogo de desafiar Diana era quase sempre vencido por ela que era craque na adivinhação. Os caminhos de Deus são insondáveis... Quem poderia adivinhar que Diana tinha uma vocação para Madonna House? Um padre amigo a convidou a passar uns dias em Combermere, mas, quando Diana veio, Catarina já estava muito doente... Mas mesmo assim ela foi até a cabana da Catarina que estava acabando de acordar. Diana se aproximou da cama e simplesmente ficou lá ao lado da Catarina que a olhou fixamente. Parecia que Diana estava sendo acolhida pelo azul daquele olhar e ela entrou porta adentro. Agora nós confiamos que ela está sendo acolhida porta adentro no céu, juntamente com Marg e Joan.

Poustinia


Partilhando estórias da Catarina
O Bom Pastor dá a vida por Suas ovelhas… Ninguém tira a Sua vida; é Ele que a dá… Esta palavra estava reverberando em meus ouvidos durante a apresentação sobre o bom pastor na sala de jantar de Madonna House. Tínhamos acabado de almoçar e estávamos todos sentados à mesa como que um pouco adormecidos pela digestão e pelo cansaço do trabalho da manhã. Quando me preparava para dar um cochilo mesmo estando sentada em plena sala de jantar no meio de tanta gente, alguém começou a colocar cuidadosamente na mesa em frente de todos nós uns bichinhos em madeira e o bom pastor esculpido também em madeira. A apresentação foi feita pela diretora da nossa casa no Arizona nos EUA onde ensinamos catecismo seguindo o método de Maria Montessori. A criança em mim acordou imediatamente e eu segui passo a passo a apresentação… Eu estava muito satisfeita com a apresentação, mas tudo mudou quando eu vi a imagem do bom pastor caída… Pois para defender as suas ovelhas do lobo, o bom pastor morreu. Uma onda de revolta passou por mim… “Não! Não! Por que o bom pastor não matou o lobo?  Por que ele se deixou matar?” Catarina adivinhando as minhas perguntas me olhou e o azul dos seus olhos me abençoou... Era como se Ela estivesse pedindo a Nossa Senhora para ajudá-la a me responder. Então eu senti como se Nossa Senhora estivesse colocando sobre mim o Seu manto azul e foi aí que a Catarina começou a contar uma de suas estórias...
 
Como a Morte se tornou Vida

No começo, a Morte se sentiu como uma estranha na terra. Ficava perambulando, como que perdida. Então, um dia, ela viu um belo pássaro com plumas brancas como a neve. Gentilmente ela foi até ele e estendeu sua mão para sentir a suavidade de suas penas que brilhavam tanto como o sol. Tão logo teve seus dedos tocados nele, o pássaro caiu a seus pés, frio e imóvel. A Morte o pegou, imaginando porque ele tinha parado de cantar e viver. E foi assim que ela descobriu o seu poder...
A Morte levou um longo tempo para tocar no homem. Mas, um dia ela o fez—e ela viu o homem tremer e vociferar. Ele se tornou frio e imóvel tanto quanto aquele primeiro pássaro branco. Naquele dia a Morte experimentou a totalidade de seu poder terrível. Mas também naquele dia ela conheceu a solidão até sua última gota amarga.

A Morte continuou andando pela terra. Às vezes, ela ria do medo que o homem tinha dela e ela começou a verdadeiramente apreciar o seu poder sobre o homem. Outras vezes, a Morte chorava amargamente , não apenas porque estava tão só, mas também porque sentia que alguma parte desconhecida do homem parecia sempre escapar de suas mãos.
Um dia, cansada e sem forças, sentou-se numa colina, debaixo de três cruzes onde três homens estavam sendo executados. Não estava a fim de olhar ou de tocar nenhum deles. Estava muito cansada, muito só, muito desconsolada. Simplesmente sentou-se lá com sua cabeça em suas mãos e derramou muitas lágrimas, lamentando sua própria solidão.

De repente, ela ouviu uma voz dizer mansamente: “Tenho sede”. Ao levantar os seus olhos ela caiu no abismo insondável da luz vinda dos olhos do homem dependurado entre os outros dois. Ela não ousou tocá-lo, ainda que o quisesse; mais do que nunca quis tocar alguma coisa ou alguém. Muito conscientemente, colocou as mãos para trás e olhou fixamente para o rosto dele, sangrando e desfigurado... Ela simplesmente não conseguia despregar os olhos do corpo daquele homem. Ela o ouviu falar algumas poucas sentenças curtas. Cada palavra ficou trancada em seu peito apertando o seu coração. O eco da voz dele, fraca pela dor, a moveu profundamente.
Depois ele ficou em silêncio, mas seus olhos estavam chamando por ela, numa mensagem sem palavras. Ela não sabia como tinha acontecido, mas, gentilmente, oh, tão gentilmente, ela tocou seu rosto. Ele pareceu, por um instante, sorrir somente para ela. Então, como todos os outros antes dele, ele morreu fechando os olhos e se tornando frio e sem vida!
Ela não podia acreditar! De certa forma, ela sabia, sem saber, que ele era diferente de todos os outros. Assim, ela permaneceu mais um pouco naquele lugar. Ela viu quando o tiraram da cruz... ela viu sua mãe segurar em seus braços o corpo dele sem vida e abraçar seu rosto pálido contra seu peito.Viu-o ser carregado para um túmulo, no buraco de uma caverna. Viu alguns soldados rolarem uma pedra na frente da entrada do túmulo para fechá-lo.

Então, com rapidez nos passos e em silêncio como só a Morte pode caminhar, ela entrou na caverna antes que a pedra fosse colocada no lugar. O que aconteceu lá dentro entre Ele e a Morte nenhum ser humano jamais o saberá. Uma coisa é certa... No domingo seguinte, dois dias depois de ser tirado da cruz, algumas mulheres vieram ao túmulo e o encontraram vazio. A Morte já não estava mais lá.
Desde aquela manhã de domingo, todos os que encaram a Morte com os olhos da fé naquele homem, vêem a Morte de modo diferente... Agora ela tem traços de uma beleza estranha e forte, pois o Amor passou por ela... Sabemos que o seu toque traz vida, não morte. Agora a Morte é mensageira do Amor de Deus para com os homens e Amor é Vida... A Morte, plena de Amor e Vida, é agora passagem, portão que se abre na direção da Vida eterna.

(adaptado por Maria Cristina Coutinho do livro “Em Parábolas” escrito por Catarina Doherty, traduzido por Sonia Santos e publicado pelas Paulinas)

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