quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O Amor que dá vida

Essa postagem tem como título o mesmo do excelente livro de Kimberly Hahn publicado pela Ed. Quadrante que trata do maravilhoso plano de Deus para o matrimônio. A escolha foi por compreender que o amor entre os esposos gera vida, e entre estes e os seus filhos, continua gerando vida. Nesse sentido, um acontecimento singelo ocorrido na última semana de aula de nossa filha Maria Clara (7 anos) nos chamou atenção.

Sempre soubemos o quanto nossos filhos amam a vida fraterna e a relação entre eles, mesmo com aquelas "arengas" típicas de irmãos. Brincam, choram, irritam, fazem as pazes e se ficarem mais de um dia distantes um do outro, começam a sentir saudades... Com a experiência da quarta gravidez de minha esposa e consequentemente a perda do bebê, uma certa expectativa foi gerada entre eles, o que entendemos ser natural, mas tudo confiamos na vontade do Senhor e continuamos nos colocando a disposição Dele, para que Sua vontade prevaleça em nossa casa.

Maria Clara ao fazer sua atividade escolar em casa (ver foto ao lado), precisava preencher duas colunas, sendo uma com necessidades e outra com desejos. Na coluna da esquerda, a pequena escreveu: água, alimento, saúde e Deus. E na coluna da direita que pedia que fosse escrito os desejos, surgiu o seguinte: ter mais irmãos. Naquele momento, a mãe perguntou: Tem outro desejo que você gostaria de escrever? Respondeu a filha: Não, esse é o único desejo que tenho.

Quando as pessoas se preocupam se um quarto vai dá para duas ou três irmãs ou que elas ao crescerem precisarão de privacidade, se eu terei condições de pagar a escola das crianças ou o plano de saúde, etc., uma criança pede mais irmãos. Mas por que isso? Porque a experiência com os seus irmãos é salutar, é sublime! Escutamos algo semelhante do caçula Pedro José que vive perguntando se a mãe tem um bebê na barriga; enquanto a primogênita sempre questiona quando a mãe ficará grávida novamente... Isso é de uma beleza incomensurável!!! Eles podiam entender que mais irmãos é ter que dividir suas coisas e enxergar nisso algo ruim, mas não. Compreendem que esse dividir/partilha é natural de uma família que busca estar junto em todas as circunstâncias, seja na fartura, seja na dificuldade. Para dá um exemplo mais claro, recentemente todos de casa, com exceção de Pedro José que é bem pequeno, assumimos algumas tarefas que antes eram da empregada doméstica que aqui viveu durante uma década. Agora com sua saída, tivemos que nos virar... E então, uma lava a louça, outra enxuga, outro arruma e por aí vai. Então, como querer mais irmãos se o trabalho vai aumentar? Não tem problema, pois se o trabalho aumenta, o amor se torna muito maior entre nós.
Deixo claro que partilho nossa experiência com quatro filhos (sempre contamos com nosso bebê no céu), o que não necessariamente é a realidade dos demais casais. Sempre desejei uma "casa cheia" de crianças e lembro das conversas com minha esposa, na época namorada, que eu divagava sobre a mesa com as cadeiras completas, isto é, rodeada de filhos. Todavia, isso é uma particularidade de cada matrimônio. No entanto, chamo atenção para aquilo que a Igreja nos orienta, mesmo sendo justo e aceitável o espaçamento entre os nascimentos dos filhos: "Um aspecto particular desta responsabilidade diz respeito à regulação da procriação. Por razões justas , os esposos podem querer espaçar os nascimentos de seus filhos. Cabe-lhes verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de acordo com a justa generosidade de uma paternidade responsável. Além disso, regularão seu comportamento segundo os critérios objetivos da moral. (Catecismo da Igreja Católica, n. 2368).

Percebam que esse espaçamento não deve advir do egoísmo. Muito pelo contrário! Cada casal tem suas motivações específicas e aqui não entraremos em questões que só cabe a eles. Entretanto, podemos partilhar das maravilhas que ocorrem quando Deus nos concede a graça de presentear nossos filhos com irmãos!!! Não há presente mais belo! Nesse exato momento que escrevo, escuto as vozes deles brincando de esconde-esconde dentro de casa. Pedro José acabara de passar aqui com a espada dizendo que estava caçando piratas (eheheheh), ou seja, procurando as irmãs (hahahaha). Isso é bom demais!

Vejam o relato do excelente livro Gastando tempo com os filhos de Mannoun Chimelli: “A propósito, uma pesquisa realizada pela Universidade de Valência (Espanha) entre 1600 crianças de 4 a 14 anos, revela que o melhor ‘brinquedo’ que os pais podem oferecer aos filhos é um irmão! Os que são filhos únicos, ou têm apenas um irmão, sentem-se sós, e acabam desenvolvendo carências emocionais e afetivas (a assim chamada ‘síndrome do filho único’) que os colegas de escola ou amiguinhos da vizinhança nunca são capazes de suprir” (p. 24).

Tivemos essa sensação no nascimento de Maria Clara (a segunda gravidez), de Pedro (a terceira) e do bebê (a quarta). Aquela confirmação ("positivo") do exame; aquela consulta no médico ao ver a ultrassonografia, eram mais do que presentes para os irmãos, eram a confirmação de que o amor dá vida! Sempre fui uma pessoa observadora e nesses momentos (na consulta ao médico em que as crianças acompanhavam os pais) eu faço questão de ficar atento nas feições das crianças, na expectativa, nos olhares... É impressionante a alegria que eles sentem.

Kimberly Hahn compartilha no seu livro algo do que tenho dito: "No dia em que David nasceu, os nossos três filhos mais velhos vieram ver-nos ao hospital. Depois de tomar David nos braços, o meu filho mais velho, Gabriel, veio para o meu lado e tomou-me as mãos com carinho. Sussurrou devagar: ‘Mamãe, não encontro palavras para agradecer-lhe’. Os dois ficamos sem respirar; o seu agradecimento emocionou-me. Os filhos são um presente, tanto os crescidos como os pequenos, para nós e entre eles" (p. 169).

Por isso queridos leitores, vale a pena confiar em Deus e acreditar que o amor de uma família se dá principalmente na generosidade, na partilha, na convicção de que o Senhor nos ampara e até mesmo nas renúncias que são comuns numa vida familiar e comunitária. Ah, mas eu preciso trocar de carro, fazer aquela viagem, reformar minha casa, muita conta para pagar... Sabemos disso, mas um filho NUNCA será um fardo para aqueles que amam verdadeiramente. Por isso, a Igreja no Concílio Vaticano II, bem como por meio da Encíclica Humanae Vitae do Papa Paulo VI e a Exortação Familiaris Consortio do Papa João Paulo II, só para citar alguns documentos, exortam com muito carinho essas famílias que se abrem à vida: "Devem-se mencionar especialmente entre os esposos que cumprem dessa maneira a missão que Deus lhes confiou aqueles que, de comum e prudente acordo, acolhem, com alma grande, uma prole mais numerosa para ser convenientemente educada (Gaudium et Spes, n. 50).

Por fim, concluo dizendo que a cada dia que passa, somos mais felizes ao vê-los crescendo e tendo a certeza que o sim do matrimônio dá vida em todos os sentidos. Os irmãos são os verdadeiros e fidedignos amigos uns dos outros. Precisamos aprender a cultivar essa generosidade em nossas famílias, e isso começa do amor e do respeito entre os esposos.

"Nunca ouvi ninguém dizer no fim da vida que teria desejado ter um filho a menos, mas ouvi muitas pessoas dizer que teriam gostado de ter ao menos mais um filho" (KIMBERLY HAHN, p. 169).
Quem passa por experiências semelhantes ao que partilhei acima, sabe perfeitamente a alegria de viver assim. Quem ainda não vive realidade semelhante, mas que deseja, continue confiando em Deus e em Sua divina Providência, e faça por onde as coisas aconteçam. Quem discorda do que partilhamos é porque ainda não conseguiu compreender que nesta vida há "bens" muito, mas muito mais preciosos que ouro e prata, e dentre estes estão os filhos. Isso digo com toda convicção. O Natal do Senhor se aproxima e nós continuamos pedindo a Ele que nossos corações se transformem em verdadeiras manjedouras para acolhê-Lo. E se Ele nos conceder a graça imensa de mais uma vez celebrar o "natal" em nossa casa com mais um rebento, a alegria será ainda mais especial. Em Ti confiamos e entregamos tudo que temos e somos. Vem Senhor Jesus!

De um indigno escravo da Cruz e da Virgem Maria

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