terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A liturgia nunca é propriedade privada, disse João Paulo II

Recentemente ao ler uma excelente entrevista de Georg Ratzinger concedida a um jornalista alemão Michael Hesemann, que culminou na publicação do livro "Meu irmão, o Papa" da Editora Europa, me deparei com histórias belíssimas de uma família cristã católica que de forma simples e piedosa, experimentou as alegrias e agruras permitidas pelo bom Deus. Dentre tantos depoimentos e fatos narrados pelo irmão do querido Papa Bento XVI, vou me ater a um detalhe que trata da experiência do Monsenhor Georg, que durante 30 anos foi Maestro da Catedral de Ratisbona. 

Descobrindo sua vocação ao sacerdócio, Georg Ratzinger que sempre apreciara a música, especialmente tocar o instrumento piano, teve a oportunidade de unir este seu gosto à sua vida religiosa. Desse modo, é fenomenal escutar/ler um senhor nonagenário falar da beleza da Liturgia, especialmente quando se trata da verdadeira música que deve envolver todo o ambiente propício para tamanho acontecimento. Eis as palavras do monsenhor:
Como ensinava repetidas vezes Dom Estevão Bettencourt, somos seres psicossomáticos, o que significa que para nós, os gestos, símbolos, canções e tudo mais que está a nossa volta, nos fala sobremaneira, como também pode nos distrair do verdadeiro "foco". E a Igreja através das normas litúrgicas sabe muito bem nos orientar para o "foco", isto é, para a centralidade da Liturgia que é o Cordeiro Imolado de Deus. De fato, nossas celebrações eucarísticas se tornaram muito conforme os diversos "gostos" dos músicos, do padre, dos grupos de oração, da comunidade... E esqueceram, em muitas ocasiões, o verdadeiro sentido - sublime e sacrifical - da Santa Missa. Por isso, muitos que atualmente são devotos de São João Paulo II esqueceram daquilo que foi dito por ele na Encíclica Ecclesia de Eucharistia, na qual o trecho abaixo descrito se encontra na apresentação de outro importante documento - Instrução Redemptionis Sacramentum - da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, na época do mesmo papa. 

"Sinto o dever de fazer um veemente apelo para que as normas litúrgicas sejam observadas, com grande fidelidade, na celebração eucarística. Constituem uma expressão concreta da autêntica eclesialidade da Eucaristia; tal é o seu sentido mais profundo. A liturgia nunca é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios [...]. Actualmente também deveria ser redescoberta e valorizada a obediência às normas litúrgicas como reflexo e testemunho da Igreja, una e universal, que se torna presente em cada celebração da Eucaristia. O sacerdote, que celebra fielmente a Missa segundo as normas litúrgicas, e a comunidade, que às mesmas adere, demonstram de modo silencioso mas expressivo o seu amor à Igreja [...]. A ninguém é permitido aviltar este mistério que está confiado nas nossas mãos:  é demasiado grande para que alguém se possa permitir de o tratar a seu livre arbítrio, não respeitando o seu carácter sagrado nem a sua dimensão universal" (EE, 52).

Sem comentários... São João Paulo II é muito, mas muito claro!

Nesse sentido, confesso que ainda sonho em participar mais vezes da Liturgia que esteja conforme as orientações da Igreja (o que não diminui ou exclui a graça advinda e recebida das Missas que, porventura, não estejam de acordo com as normas litúrgicas) e não apenas "adaptadas" ao grupo de oração ou comunidade, ou então ao gosto do padre ou dos fieis, mas apenas seguindo as orientações da Mãe Igreja, depositária fiel das graças de Nosso Senhor Jesus Cristo.

E se esse sonho não se tornar realidade antes de minha morte? Morrerei tranquilo por ter tentado ser fiel em todas as circunstâncias, mesmo naqueles momentos mais angustiantes para os que amam a Liturgia e compreendem que ali, mais do que nunca, se faz presente no meio de nós. Morrerei ciente da misericórdia de Deus por me amar tanto. Morrerei agradecido por Ele ter me permitido sonhar com a Liturgia Celeste aqui na terra, isto é, prelúdio daquilo que um dia (queira Deus!!!!) vivenciarei na eternidade...
Enquanto isso, continuo sonhando e rezando ao Senhor para que eu não titubeie diante das intempéries e incompreensões quando falamos sobre esse assunto. Para que eu permaneça firme no amor a Sagrada Liturgia, que, independentemente do ministro ou daqueles que o auxiliam, me faz experimentar o céu na terra. A todos estes, minhas sinceras orações!

De um indigno escravo da Cruz e da Virgem Maria

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