quinta-feira, 2 de maio de 2013

Partilhas de Madonna House (XII)


Queridos Amigos,
 
Cristo Ressuscitou! Verdadeiramente Ele ressuscitou! Na alegria do tempo pascal partilhamos com você duas estórias de morte e ressurreição... Enviamos juntamente com estas Partilhas o ícone de Jesus que desce aos infernos e levanta Adão e Eva pegando-os pela mão e libertando-os da morte… Vamos todos nós segurar na mão do Senhor ressuscitado e confiar na Sua força para nos arrancar e libertar da morte do pecado. Rezamos  especialmente por todos os jovens que se preparam para ir ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude…
 
Partilhando estórias de Madonna House
 
« Aleluia !!! »
 
Minha amiga estava morrendo. Nada extraordinário para uma mulher de mais de noventa anos. Fui visitá-la no hospital. Ela dormia pois a enfermeira tinha injetado nas veias dela uma forte dose de sedativo. Pensei em tentar acordá-la, mas a enfermeira insistiu que eu não o fizesse. Fiquei por algum tempo ao lado da cama a rezar. Sabia que esta seria a última vez que eu a veria na terra.
 
Depois deixei o quarto e peguei o elevador. Andei pelos corredores daquele grande hospital com lágrimas escorrendo pelos olhos. Cada pessoa que passava por mim, compreendia. Lembrei-me do capítulo “Poustinia no hospital” do livro “Deserto Vivo” da Catarina. Solidão, sofrimento, morte e vida, tudo tem um sentido escondido neste deserto onde Deus se revela àqueles que o procuram.
 
Procurei a capela do hospital e lá chorei livremente. Entreguei a Deus minha amiga e seus últimos dias de vida... Lembranças inundaram os meus pensamentos... Estava de novo na casa dela sentada ao lado da janela e ela cheia de vida me dizia que quando ela abria a janela todos os passarinhos começavam a cantar em festa.  Jamais ocorreu a ela que eles estavam cantando antes e que simplesmente ela não podia ouví-los. Então a minha mente saltou para o dia em que eu a disse que ia viajar para o Brasil e ela me pediu para acenar do avião quando ele passasse sobrevoando a casa dela. Ou o dia em que ela estava triste porque ela não podia encontrar as galinhas no terreiro... Apenas com o detalhe que já havia anos que ela não tinha mais galinhas.... Aos poucos as lembranças se apagaram e como um facho de luz veio a clareza de que a morte não pode nos separar do Amor de Deus... Em um hospital meu coração cantou sem medo o louvor de um Aleluia!
 
“O Que Você Está fazendo Aqui”
 
“Vá até o pobre, sendo pobre.” Esta linha do pequeno mandato de Madonna House estava martelando nas minhas veias. Eu estava neste vilarejo perdido no meio do mato. Fui visitar uma senhora que estava morrendo de tuberculose. Entrei e ela, ouvindo o barulho de gente que entra, se levantou apesar do corpo caindo aos pedaços.
 
Carne colada ao osso, ela me recebeu como rainha, o que significa, que ela na sua indigência me preparou um café entre cusparadas de sangue. Eu bebi o café com uma certa hesitação e medo do contágio.  Gosto amargo e doce na boca, eu engoli com goles curtos o café quente, tentando não me concentrar no cuspe vermelho engolido pelo chão de terra da casa.
 
Dia seguinte minha amiga morreu. O único parente que ela tinha era uma filha que morava por perto em uma casa de prostituição. No velório eu encontrei com a filha e suas amigas. Todas me engoliam com os olhos. Em cada olhar eu percebi a pergunta: “o que você está fazendo aqui?”
 
O medo da identificação com o pobre é uma realidade que atravessa muitas vidas... Mas junto ao corpo de minha amiga comida pela tuberculose e de sua filha exausta da vida, eu me vi pobre. Como viver este sofrimento que esmagava meu coração? Catarina ainda uma vez sorriu com uma imensa ternura: “Não tema! Nada nos separará do Amor de Deus.”

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