Amar pouco a Maria é amar menos a Jesus

São Luís Maria Grignion de Montfort, há 300 anos atrás já nos alertava sobre os devotos escrupulosos, “que são aquelas pessoas que temem desonrar o Filho honrando a Mãe, rebaixar um ao elevar a outra” (TVD 94). Muitas vezes esse tipo de pessoas até são bem intencionadas, mas infelizmente pouco instruídas, não sabem que a finalidade da verdadeira devoção para com a Mãe de Deus é a glorificação de Deus e a nossa santificação por meio da luta constante em reproduzir as virtudes da Rainha do Céu. É impossível que a vivência da verdadeira devoção ensinada por São Luís nos afaste do Senhor, pois essa devoção nos faz percorrer o mesmo caminho que Deus escolheu para armar sua tenda entre nós, caminho este que é o da Santíssima Virgem. Deus sendo perfeitíssimo só produz obras perfeitamente, por isso devemos utilizar esse caminho perfeito para irmos até Ele, pois é um caminho seguro, sem mancha alguma de pecado, caminho traçado pelo próprio Deus. 

Até mesmo em uma direção espiritual, por mais que seja uma prática muito santa e aconselhada, pode ocorrer acidentalmente um afastamento de Deus, pois o diretor que é um homem pecador como nós, pode ao invés de nos conduzir para Deus nos conduzir para si próprio, para sua “própria santidade”. Já com a Santíssima Virgem isso é impossível que aconteça, pois n’Ela não há inclinação alguma ao pecado, sua única inclinação “é unir-nos a Jesus seu Filho” (TVD 75). O que Nossa Senhora fez quando Santa Isabel cheia do Espírito Santo a louvou? Ela cantou o Magnificat, exultando a Deus e transferindo os louvores a Ele! E assim Ela faz quando entregamos nossas ofertas a Deus por suas mãos, Ela “purifica-as, embeleza-as e fá-las aceitáveis a seu Filho” (TVD 146). A Santíssima Virgem em sua vida terrestre já era toda conformada com a vontade de Deus, e agora no Céu é ainda mais, visto que a glória aperfeiçoa a graça.

Devemos exorcizar esse espírito de escrúpulo que quer nos persuadir de que a devoção a Santíssima Virgem atrapalha a devoção a Jesus. Sim, devemos exorcizar, pois isso é uma ilusão demoníaca! O que damos a Ss. Virgem não é o que tiramos de Jesus, mas o que tiramos da devoção a Ss. Virgem implica uma deficiência na nossa devoção a Jesus. Onde a devoção a Ss. Virgem é superficial, “Jesus não é amado, os hereges não se convertem, a Igreja não é exaltada, os sacramentos não são frequentados como devia ser”, assim se queixava o Pe. Faber, sacerdote inglês que morreu em fama de santidade.

Meus irmãos, amar pouco a Ss. Virgem é amar menos a Nosso Senhor. Não temamos, a Santa Mãe Igreja nos ensina que “o culto que é dirigido a Virgem Mãe de Deus, é um sinal de predestinação” (Pio XII), e nós nunca amaremos mais Ela do que Jesus Nosso Senhor a amou. Devemos pedir sempre a Deus um coração como o da Virgem para amar a Jesus e um coração como o de Jesus para amar a Virgem! São Luís nos diz que “o que nos impelirá mais fortemente para esta devoção à Ss. Virgem é ser ela o meio admirável para perseverarmos e sermos fiéis” (TVD 173) apesar das cruzes que nos esperam, pois os mais fieis servos da Santíssima Virgem são os seus maiores favoritos. Por isso, "são eles que recebem d’Ela as maiores graças e favores do Céu, a saber, as cruzes” (TVD 154). 

Olhemos para o exemplo dos santos que viveram essa verdadeira devoção. Somente o exemplo deles já deveria ser o bastante para abraçarmos esta Total Consagração. Por acaso o glorioso martírio de São Teofano Vernard, fiel discípulo de São Luís, não é sinal de uma firmeza na fé? E a maneira que o beato Papa João Paulo II encarou suas enfermidades, renovando sempre o seu Totus Tuus, não era uma confiança plena em sua Rainha? E o heroísmo e coragem dos soldados da Vendea, terra evangelizada por São Luís e marcada pela Total Consagração, não é sinal de um verdadeiro amor a Santa Religião Católica? E a vida e martírio de São Maximiliano Maria Kolbe, não foi sinal de uma perfeita caridade para com o próximo? Caríssimos, a exemplo dos santos entremos na escola do Imaculado Coração de Maria, façamos e vivamos a Total Consagração e ajudemos assim, com nossa vida, a cumprir aquela primeira profecia: “Ipsa conteret – Ela esmagará” (Gn 3,15). 

Ir. Pio do Santíssimo Mistério do Calvário.

“Quotidie morior”