quinta-feira, 12 de abril de 2012

A Ira Justa

Falei na postagem anterior que me deteria com mais afinco sobre o termo Ira Justa, utilizado por Catherine em seu livro Evangelho sem Restrições. É bem verdade que ao escrever sobre o assunto, a Baronesa (como muito a conhecem) falava da situação que os negros enfrentavam no bairro pobre do Harlem em Nova Iorque (pobreza, discriminação, exclusão, etc.), lugar onde ela morou por dez anos, todavia, tenho que afirmar que essa ira justa me invadiu no dia de ontem, e perdurará até não sei quando... Deus tenha misericórdia de mim, pois é praticamente impossível ficar insensível diante dessa decisão do STF! Resumindo: nesses dias a ira me envolveu! Segue o texto:

"Em que ponto oculto das profundezas de um espírito humano a ira deve começar, e o cristão se vê justificado a tomar nas mãos as cordas da indignação para expulsar, do templo, os comerciantes profanadores? Há uma linha-limite, além da qual o homem tenha permissão para gritar palavras de fogo e de verdade aos poderosos deste mundo?

Sim, existe a ira santa, como no-lo atesta o Evangelho, relatando a ação de Cristo contra os vendilhões do templo e suas palavras tremendamente violentas contra a hipocrisia dos fariseus, que ele chama de 'raça de víboras', 'sepulcros caiados' etc.  Eu pessoalmente sei muito bem que tormentas de angústia podem abater-se sobre alguém, quando uma ira justificada o inflama como uma febre ou fá-lo tremer como um vento gelado. Experimentei isso nas favelas de Toronto, nos anos da depressão, ao ver longas filas de homens famintos, esperando sua vez, diante de um armazém (...) Pergunto-me angustiada até quando é possível para um cristão observar, em silêncio, o rosto dos pobres sendo esmagado contra o pó pelos ricos e ver as nações ricas enviando punhadinhos de trigo para os países pobres, enquanto gastam milhões em propagandas espaciais e bombas atômicas. Até que ponto se pode ficar calado, sem manifestação alguma de violência, vendo os ricos se empanturrando e, depois, pagando altíssimos preços aos médicos para que os ajudem a reduzir o peso e conservar a forma, enquando a metade do mundo está passando fome? Quem me dará uma resposta para tanta angústia e para toda a indignação que consome, por dentro, milhares de corações cristãos?

A mim, só fica uma resposta: a oração ininterrupta, reforçada pelo jejum; o fiat de uma resignação, dizendo a Deus que aceito permanecer crucificada na cruz desta ira eternamente tensa e justa. Sinto-me mais segura nesta cruz e, enquanto estou cravada nela, não me vence a tentação da violência. A missão de um crucificado é pender da sua cruz e lá morrer aos poucos por todos aqueles que ama. Sim, talvez seja esta a única resposta possível: morrer na cruz para que a esperança possa nascer no coração dos outros, dos infelizes e dos pobres. Morrer para que o amor ainda consiga florescer nos corações dos ricos e fazer com que eles se debrucem sobre a pobreza dos seus irmãos" (Evangelho sem restrições, pp. 146-148). 

Obs: No lugar dos pobres e negros do Harlem, imagine centenas e milhares de crianças que serão "descartadas" nos rincões desse Brasil!

Um comentário:

laiane disse...

O sentimento que tenho hoje em relação a tudo isso, não consigo nem descrever aqui, Nossa Senhora vele por nossas angustias e as leve ao Coração Sagrado!