terça-feira, 27 de março de 2012

O Sagrado diante dos meus olhos!

Uma das frases que mais me chama a atenção quando rezo a consagração a Nossa Senhora por meio do Movimento Sacerdotal Mariano (Cenáculo Mariano) é a seguinte: "Consciente de que o ateísmo fez naufragar na fé, grande número de fieis, de que a dessacralização entrou no templo santo de Deus". Não é surpresa falarmos das consequências maléficas do ateísmo na sociedade, todavia, aspectos sutis e pouco explícitos para o grande público tornaram-se perigosos e destruidores, pois minaram a fé do povo de "dentro para fora", isto é, a perda do sagrado foi ocorrendo paulatinamente, ao ponto que muitos não conseguem mais discernir os valores sagrados e profanos. 

Nesse sentido, lembro-me de uma expressão bastante utilizada pelo saudoso Dom Estevão Bettencourt, quando afirmava que o ser humano possui uma índole psicossomática, ou seja, "não somos apenas espírito, alimentados por conceitos abstratos, somos também corpo, e precisamos de sinais sensíveis (vesíveis e sonoros) para nos exprimir e comunicar" (BETTENCOURT, 1997, p. 107). Mas alguém pode perguntar: Onde você deseja chegar com isso? Por que falar de dessacralização e de índole psicossomática do ser humano, termos tão "distantes" do nosso vocabulário cotidiano? 

Caro(a) leitor(a), gostaria de conduzi-los a uma reflexão breve, mas significativa, tendo em vista que nossas ações podem mudar a forma como vemos, sentimos e participamos. Isso mesmo, aqui falo especificamente da maneira como nos comportamos na Santa Missa. A "onda da dessacralização" adentrou em muitos corações que já não conseguem ver, sentir ou participar do Santo Sacrifício de Cristo - a Santa Missa. Ademais, um certo "relativismo litúrgico" tornou-se praxe em muitos lugares. Expressões egoístas e sem sentido tomam conta de comunidades eclesiais/paroquiais: "A Missa é minha, a Missa é nossa"; "A Missa tem que ser de uma forma que o povo se sinta bem"; "Gostei da Missa hoje porque ela foi rápida e muito animada". Enfim, esquecemos que a Missa é de Deus, para Deus... Sobre essa questão, o Cardeal Joseph Ratzinger (atual Papa Bento XVI), já comentava em meados da década de 80: "Torna-se cada vez mais perceptível o pavoroso empobrecimento que se manifesta onde se expulsou a beleza, sujeitando-se apenas ao útil. A experiência tem demonstrado que a limitação (da Santa Missa) à categoria do 'compreensível para todos' não tornou as liturgias realmente mais compreensíveis, mais abertas, somente as fez mais pobres" (RATZINGER; MESSORI, 1985, p, 96). 

Alguém pode entender o termo pobre no final da afirmação do então Cardeal, como algo bom, mas é o inverso, ele fala do empobrecimento que exclui o esplendor e beleza próprias da Liturgia, daquilo que é o centro da vida cristã. "A liturgia é o ápice para o qual tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde emana toda a sua força (...) A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e de ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja" (Catecismo da Igreja Católica, páragrafos 1074 e 1407).

Desse modo, não podemos "economizar" nos nossos sentimentos mais preciosos que temos quando se trata da Santa Missa. Se somos um ser psicossomático (que possui espírito e corpo) e possuímos desejos que podem ser expressados, façamos isso de forma modesta, piedosa, devocional. Na Santa Missa, sejamos mais atentos e vigilantes com o acontecimento perene - o Sacrifício da Cruz - que nos redime e nos conduz a salvação eterna. Seria então exagero de minha parte desejar, ver, sentir e participar da Santa Missa com todo o esplendor que Ela merece? Creio que não! 

Obviamente, o fato disso não acontecer, não exclui a natureza em si do Sacrifício incruento de Cristo, este precisa ser vivenciado SEMPRE com todo amor e adoração, independente do lugar, dos ministros, das pessoas, das circunstâncias. Entretanto, naquilo que está ao nosso alcance, precisamos ser mais ousados e corajosos. Mas como assim? Não seria essa ousadia uma afronta? Não! Ser um adorador de Cristo não é afrontar ninguém, mas viver a autenticidade do ser cristão católico! Se a igreja está barulhenta, faça silêncio. Recolha-se e adore o Verbo de Deus que se fez carne. Aliás, vale aqui destacar a necessidade que temos de não deixarmos ser solapados pelos "modismos litúrgicos" que em muitos casos empobrecem o sentido do sagrado. Lembrem-se: a Liturgia é de Deus, é para Deus... Os documentos pontifícios insistentemente nos exortam a valorizar sempre a Sagrada Liturgia, conforme os "manuais litúrgicos", ou seja, a Missa do Missal, o qual prevê e prescreve aquilo que realmente deve acontecer. 

Eu particularmente gosto do canto gregoriano, do latim (mesmo sem entender muito), do silêncio que oportunamente deve ser guardado na Santa Missa (http://partilhandonossafe.blogspot.com.br/2012/01/sou-assim-eu-mesmo.html), dentre outras coisas mais que anteriormente já descrevi neste blog. Por isso, compartilho com júbilo e gratidão a Deus e a intercessão da Bem-aventurada sempre Virgem Maria, pela oportunidade de ontem a noite participar junto com amigos e familiares, da Solenidade da Anunciação do Senhor celebrada no Rito Ordinário (Missa de Paulo VI) em latim - versus Deum. Na ocasião, alguns leigos (inclusive este que escreve) fizeram suas consagrações (e renovações) a Sabedoria Encarnada por meio da Santíssima Virgem, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort. Como anteriormente falei de ousadia e coragem, tivemos a ousadia de tentar cantar quase todas as músicas da Santa Missa em latim (meu muito obrigado a Micarlos, Rodrigo, José Carlos e Petterson). Penso que para a primeira vez, nos saímos bem, principalmente porque cantamos com as nossas almas e corações, para que Cristo seja cada vez mais amado e adorado. 

Na Santa Missa de ontem, ficou perceptível como os sinais, os gestos, as canções, o incenso, os paramentos, o silêncio, "respiram" o sagrado e como somos envolvidos por tal sentimento. Os que pensam contrariamente (certamente não estiveram por lá) dirão sem pestanejar: "Está depreciando as outras Missas ou aqueles que não gostam do incenso, do silêncio, do latim?" Lógico que não! Repito: A Missa é o ápice da vida cristã, independe das circunstâncias em que esta ocorra, mesmo nas situações extremas de falta de sacralidade e piedade. Apenas exponho a alegria que brotou em meu coração na noite de ontem - em ver, sentir e participar do Santo Sacrifício de Cristo - da Santa Missa! Providencialmente, parte do Salmo 39, cantado pelo meu irmão Micarlos, dizia: "Boas-novas de vossa justiça anunciei numa grande assembleia; vós sabeis: não fechei os meus lábios! Proclamei toda a vossa justiça, sem retê-la no meu coração; vosso auxílio e lealdade narrei. Não calei vossa graça e verdade na presença da grande assembleia". Acordei hoje com essas expressões em meu coração, e na certeza de que a web se torna uma "grande assembleia", faço minhas as palavras do salmista e aqui anuncio a Verdade que abracei na noite de ontem: Jesus Cristo nos braços da Virgem Maria!

De um indigno escravo da Cruz e da Virgem Maria 
 
BETTENCOURT, Estevão. Católicos perguntam. 7 ed. São Paulo: O Mensageiro de Santo Antonio, 1997.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA.
RATZINGER, Joseph; MESSORI, Vitorio. A fé em crise? O Cardeal Ratzinger se interroga. São paulo: EPU, 1985.

2 comentários:

Laiane das Graças disse...

Que post heim?!A noite de ontem (acho que nunca desejei tanto estar presente) foi inspiradora!!! Sem comentário, amigo, venho tão somente ratificar suas palavras!!!!!!

Anderson Santana disse...

Graças a Deus, tenho tido a oportunidade de mergulhar nos Santos Mistérios e vivenciar plenamente a Liturgia da forma como está prescrita no Missal.
Sacerdotes muito piedosos, que seguem as orientações da Igreja quanto a Liturgia e que amam verdadeiramente a Santa Missa.
Seja na Basílica do Sagrado Coração de Jesus (Salesiano) ou na Igreja de Nossa Senhora da Soledade, o Santo Sacrifício incruento de Cristo acontece de forma bela e envolve todos os corações contritos e dispostos a vivenciarem o Calvário e a experimentarem o Deus que se faz alimento e que nos enche com seu amor.