Uma das frases que mais me chama a atenção quando rezo a consagração a Nossa Senhora por meio do Movimento Sacerdotal Mariano (Cenáculo Mariano) é a seguinte: "Consciente de que o ateísmo fez naufragar na fé, grande número de fieis, de que a dessacralização entrou no templo santo de Deus". Não é surpresa falarmos das consequências maléficas do ateísmo na sociedade, todavia, aspectos sutis e pouco explícitos para o grande público tornaram-se perigosos e destruidores, pois minaram a fé do povo de "dentro para fora", isto é, a perda do sagrado foi ocorrendo paulatinamente, ao ponto que muitos não conseguem mais discernir os valores sagrados e profanos.
Nesse sentido, lembro-me de uma expressão bastante utilizada pelo saudoso Dom Estevão Bettencourt, quando afirmava que o ser humano possui uma índole psicossomática, ou seja, "não somos apenas espírito, alimentados por conceitos abstratos, somos também corpo, e precisamos de sinais sensíveis (vesíveis e sonoros) para nos exprimir e comunicar" (BETTENCOURT, 1997, p. 107). Mas alguém pode perguntar: Onde você deseja chegar com isso? Por que falar de dessacralização e de índole psicossomática do ser humano, termos tão "distantes" do nosso vocabulário cotidiano?
Caro(a) leitor(a), gostaria de conduzi-los a uma reflexão breve, mas significativa, tendo em vista que nossas ações podem mudar a forma como vemos, sentimos e participamos. Isso mesmo, aqui falo especificamente da maneira como nos comportamos na Santa Missa. A "onda da dessacralização" adentrou em muitos corações que já não conseguem ver, sentir ou participar do Santo Sacrifício de Cristo - a Santa Missa. Ademais, um certo "relativismo litúrgico" tornou-se praxe em muitos lugares. Expressões egoístas e sem sentido tomam conta de comunidades eclesiais/paroquiais: "A Missa é minha, a Missa é nossa"; "A Missa tem que ser de uma forma que o povo se sinta bem"; "Gostei da Missa hoje porque ela foi rápida e muito animada". Enfim, esquecemos que a Missa é de Deus, para Deus... Sobre essa questão, o Cardeal Joseph Ratzinger (atual Papa Bento XVI), já comentava em meados da década de 80: "Torna-se cada vez mais perceptível o pavoroso empobrecimento que se manifesta onde se expulsou a beleza, sujeitando-se apenas ao útil. A experiência tem demonstrado que a limitação (da Santa Missa) à categoria do 'compreensível para todos' não tornou as liturgias realmente mais compreensíveis, mais abertas, somente as fez mais pobres" (RATZINGER; MESSORI, 1985, p, 96).
Alguém pode entender o termo pobre no final da afirmação do então Cardeal, como algo bom, mas é o inverso, ele fala do empobrecimento que exclui o esplendor e beleza próprias da Liturgia, daquilo que é o centro da vida cristã. "A liturgia é o ápice para o qual tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde emana toda a sua força (...) A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e de ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja" (Catecismo da Igreja Católica, páragrafos 1074 e 1407).
Desse modo, não podemos "economizar" nos nossos sentimentos mais preciosos que temos quando se trata da Santa Missa. Se somos um ser psicossomático (que possui espírito e corpo) e possuímos desejos que podem ser expressados, façamos isso de forma modesta, piedosa, devocional. Na Santa Missa, sejamos mais atentos e vigilantes com o acontecimento perene - o Sacrifício da Cruz - que nos redime e nos conduz a salvação eterna. Seria então exagero de minha parte desejar, ver, sentir e participar da Santa Missa com todo o esplendor que Ela merece? Creio que não!
Obviamente, o fato disso não acontecer, não exclui a natureza em si do Sacrifício incruento de Cristo, este precisa ser vivenciado SEMPRE com todo amor e adoração, independente do lugar, dos ministros, das pessoas, das circunstâncias. Entretanto, naquilo que está ao nosso alcance, precisamos ser mais ousados e corajosos. Mas como assim? Não seria essa ousadia uma afronta? Não! Ser um adorador de Cristo não é afrontar ninguém, mas viver a autenticidade do ser cristão católico! Se a igreja está barulhenta, faça silêncio. Recolha-se e adore o Verbo de Deus que se fez carne. Aliás, vale aqui destacar a necessidade que temos de não deixarmos ser solapados pelos "modismos litúrgicos" que em muitos casos empobrecem o sentido do sagrado. Lembrem-se: a Liturgia é de Deus, é para Deus... Os documentos pontifícios insistentemente nos exortam a valorizar sempre a Sagrada Liturgia, conforme os "manuais litúrgicos", ou seja, a Missa do Missal, o qual prevê e prescreve aquilo que realmente deve acontecer.
Eu particularmente gosto do canto gregoriano, do latim (mesmo sem entender muito), do silêncio que oportunamente deve ser guardado na Santa Missa (http://partilhandonossafe.blogspot.com.br/2012/01/sou-assim-eu-mesmo.html), dentre outras coisas mais que anteriormente já descrevi neste blog. Por isso, compartilho com júbilo e gratidão a Deus e a intercessão da Bem-aventurada sempre Virgem Maria, pela oportunidade de ontem a noite participar junto com amigos e familiares, da Solenidade da Anunciação do Senhor celebrada no Rito Ordinário (Missa de Paulo VI) em latim - versus Deum. Na ocasião, alguns leigos (inclusive este que escreve) fizeram suas consagrações (e renovações) a Sabedoria Encarnada por meio da Santíssima Virgem, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort. Como anteriormente falei de ousadia e coragem, tivemos a ousadia de tentar cantar quase todas as músicas da Santa Missa em latim (meu muito obrigado a Micarlos, Rodrigo, José Carlos e Petterson). Penso que para a primeira vez, nos saímos bem, principalmente porque cantamos com as nossas almas e corações, para que Cristo seja cada vez mais amado e adorado.
Na Santa Missa de ontem, ficou perceptível como os sinais, os gestos, as canções, o incenso, os paramentos, o silêncio, "respiram" o sagrado e como somos envolvidos por tal sentimento. Os que pensam contrariamente (certamente não estiveram por lá) dirão sem pestanejar: "Está depreciando as outras Missas ou aqueles que não gostam do incenso, do silêncio, do latim?" Lógico que não! Repito: A Missa é o ápice da vida cristã, independe das circunstâncias em que esta ocorra, mesmo nas situações extremas de falta de sacralidade e piedade. Apenas exponho a alegria que brotou em meu coração na noite de ontem - em ver, sentir e participar do Santo Sacrifício de Cristo - da Santa Missa! Providencialmente, parte do Salmo 39, cantado pelo meu irmão Micarlos, dizia: "Boas-novas de vossa justiça anunciei numa grande assembleia; vós sabeis: não fechei os meus lábios! Proclamei toda a vossa justiça, sem retê-la no meu coração; vosso
auxílio e lealdade narrei. Não calei vossa graça e verdade na presença
da grande assembleia". Acordei hoje com essas expressões em meu coração, e na certeza de que a web se torna uma "grande assembleia", faço minhas as palavras do salmista e aqui anuncio a Verdade que abracei na noite de ontem: Jesus Cristo nos braços da Virgem Maria!
De um indigno escravo da Cruz e da Virgem Maria
BETTENCOURT, Estevão. Católicos perguntam. 7 ed. São Paulo: O Mensageiro de Santo Antonio, 1997.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA.
RATZINGER, Joseph; MESSORI, Vitorio. A fé em crise? O Cardeal Ratzinger se interroga. São paulo: EPU, 1985.
2 comentários:
Que post heim?!A noite de ontem (acho que nunca desejei tanto estar presente) foi inspiradora!!! Sem comentário, amigo, venho tão somente ratificar suas palavras!!!!!!
Graças a Deus, tenho tido a oportunidade de mergulhar nos Santos Mistérios e vivenciar plenamente a Liturgia da forma como está prescrita no Missal.
Sacerdotes muito piedosos, que seguem as orientações da Igreja quanto a Liturgia e que amam verdadeiramente a Santa Missa.
Seja na Basílica do Sagrado Coração de Jesus (Salesiano) ou na Igreja de Nossa Senhora da Soledade, o Santo Sacrifício incruento de Cristo acontece de forma bela e envolve todos os corações contritos e dispostos a vivenciarem o Calvário e a experimentarem o Deus que se faz alimento e que nos enche com seu amor.
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