quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Criacionismo versus Evolucionismo?

Caros leitores, ontem providencialmente fui indagado por um amigo sobre a evolução, além de outros questionamentos "comuns" àqueles que desconhecem a doutrina católica, sendo na maioria oriundos dos meios protestantes, todavia, me detenho aqui sobre a questão da evolução e criação, isto é, há uma tendência de pensar que a teoria criacionista exclui necessariamente a teoria evolucionista, entretanto, as coisas não são bem assim. Admito que para muitos é uma temática complexa, mas interessante de ser analisada pormenorizadamente. Nesse sentido, transcreve parte de um artigo de Dom Estevão Bettencourt que se encontra na Revista Pergunta e Responderemos nº 495, ano 2003, nas páginas 416-417:

O homem vem do macaco?

A pergunta deve ser retificada: diga-se: o corpo do homem vem do corpo do macaco? A alma humana não vem por evolução, pois é espiritual e, por isto, criada diretamente por Deus para cada ser humano que vem a este mundo. Repondemos que o macaco, como o conhecemos, não pode evoluir, pois está muito especializado e muito adaptado ao seu tipo de vida. Se houve evolução, como tudo leva a crer, esta se deu a partir de um vivente ainda grosseiro, chamado "primata"; dele terão procedido os corpos do chimpanzé, do gorila, do orangotango e do homem; ao corpo deste, completamente organizado, Deus quis infundir uma alma espiritual, que, por ser espiritual, eleva o homem a uma categoria superior à dos macacos.

Por conseguinte não se pergunte se o homem procede do macaco, mas... se o corpo humano pode provir do corpo de um vivente preexistente ao homem. A tal pergunta dê-se resposta afirmativa: pode... Toca à ciência explicitar a resposta.


Criação e evolução conciliam-se entre si?

Sim. Com efeito, a Bíblia não tenciona ensinar ciências naturais ou antropologia; foi escrita para dizer como se vai aos céus, não para ensinar como vão os céus. Eis a fórmula conciliatória: houve um ato de Deus criador que deu origem à matéria primitiva tal como a descreve a ciência com sua teoria do big bang. O Criador terá dado à matéria inicial as leis de sua evolução, de modo que assim foram surgindo os minerais, os vegetais e os animais irracionais. Dentre estes últimos um casal terá recebido uma alma espiritual para cada parceiro criada diretamente por Deus, tornando-se primeiros representantes do gênero humano. Portanto, na mais simples das hipóteses, admita-se um ato criador para dar origem à matéria primitiva, e outro ato criador para dar início ao gênero humano, dotado de alma espiritual. Entre um e outro ato criador pode-se admitir a evolução. Observe-se ainda que Deus cria diretamente a alma de cada novo ser humano.
Cito também um trecho do livro "Mitologias Modernas" do filósofo, escrito e professor espanhol José Ramón Ayllón (pp. 13-16):

"A noção de criação aparece pela primeira vez na Bíblia, mas é também de índole filosófica e, portanto, racionalmente demonstrável. Tudo no cosmos pode talvez ser explicado por leis científicas, exceto essas mesmas leis e a própria realidade do cosmos: saber como funciona não é o mesmo que saber por que existe. Pergunta pela causa da existência é perguntar por uma causa que não se identifica com nenhuma realidade finita, porque tudo o que é finito recebeu de outro o seu ser.

Por surpreendente que pareça, o mundo não tem em si a explicação última da sua existência. Cada um dos fenômenos cósmicos pode talvez ser explicado por uma lei científica que o remeta para fenômenos anteriores, mas assim não se explica o porquê da sua própria realidade, a causa última que produz o seu ser. Este é um claro exemplo da distinção entre explicação científica e explicação filosófica.



A noção filosóficade criação afirma que a realidade foi produzida ex nihilo, do nada, sem partir de nenhuma matéria prévia. Criar não é transformar algo preexistente, mas produzir radicalmente, conseguir uma absoluta inovação, um rendimento puro. Já a evolução é uma hipótese científica que tenta explicar os mecanismos de mudança nos organismos biológicos. Portanto, ocupa-se da mudança de certos seres, não da causa do ser desses seres. Vê-se, pois, que a criação e a evolução não podem entrar em conflito, porque se movem em dois planos diferentes.

No entanto, há conflito. E, além disso, provocado por ambos os lados. Por parte do evolucionismo, quando ultrapassa os limites da ciência e afirma que tudo é matéria e, em consequência, só na matéria se pode achar a explicação de si mesma e das suas transformações. Por parte do criacionismo, quando afirma que toda a mudança equma nova ação criadora da Causa primeira, quando não tem em conta que a matéia é essencialmente mutável, de modo que a criação de coisas materiais não só não exclui a mutação dessas coisas, mas a exige, pois é uma criação evolutiva. Uma certeira comparação do escritor alemão Ernst Jünger (1895-1998) esclarece este ponto:

A teoria de Darwin não levanta problema teológico algum. A evolução transcorre no tempo; a criação, pelo contrário, é o seu pressuposto. Portanto, se se cria um mundo, com ele proporciona-se também a evolução: estende-se o tapete e este vai movimentando os seus desenhos".

Esta mesma ideia foi expressa por Santo Agostinho, de forma incomparável, há mil e seiscentos anos: "As sementes dos vegetais e dos animais são visíveis, mas há outras sementes invisíveis e misteriosas mediante as quais, por mandato do Criador, a água produziu os primeiros peixes e as primeiras aves, e a terra os primeiros rebentos e animais, segundo a sua espécie. Sem dúvida alguma, todas as coisas que vemos estavam previstas originariamente, mas para virem à luz teve que se produzir uma ocasião favorável. Tal como as mães grávidas, o mundo está fecundado pelas causas dos seres. Mas estas causas não foram criadas pelo mundo, e sim pelo Ser Supremo, sem o qual nada nasce e nada morre".

Maiores informações sobre o assunto em questão, vale a pena conferir os seguintes artigos:

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