segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Nossa meta: fazer o outro feliz!

Sempre gostei de rede. Desde cedo fui colocado por minha mãe para aquele cochilo quando muito pequeno, ainda com fralda de pano, naquela rede que balançava ora veloz, ora parcimoniosa como os momentos de descanso dentro daquele pano amarrado por cordões, que por sua vez, ficam seguros em dois armadores, que dependendo da ausência de um pouco de óleo ou algo parecido, emite aquele som estridente que causa agonia em muitos.

Na casa de minha mãe a rede sempre estava armada, fosse na sala, nos quartos ou na área de serviço. Em determinados momentos, eu assistia o jogo do Flamengo, o jornal ou apenas deitava após o almoço para um rápido descanso, sem contar as inúmeras vezes que, chegando da universidade, me deitava para relaxar um pouco e adormecia por lá mesmo, acordando apenas no outro dia. Enfim, sempre gostei de rede.

Uns dois anos antes de casarmos, compramos um terreno e neste, uma casa "pela metade", ou seja, apenas no tijolo e faltando praticamente tudo. Eu sempre digo que começamos a construção "quase do zero", mas quando ali entrei pela primeira vez, imaginei imediatamente uma rede armada naquela sala grande, especialmente por causa do vento que passaria através do pergolado (no início ainda era um banheiro) e refrescaria a quentura sentida diariamente por nós sertanejos, seridoenses.

Começamos o serviço da casa que teve vários "tempos", não apenas dois como no jogo de futebol que estamos acostumados aqui no Brasil, mas quase 4 tempos como no futebol dos americanos. Era um dinheirinho sobrando e a casa tomando rumo do nosso futuro lar... Durou quase três anos essa peleja. Mas na época do reboco, já na fase de acabamento, comprei os armadores para distribuí-los em tudo que é lugar na casa. Na minha mente, só não incluiria a dispensa, a cozinha, o pergolado, o muro (risos) e os banheiros. Todavia, para minha surpresa, eu e minha noiva fomos demarcar os lugares desses armadores imaginando a disposição dos móveis, pois sempre combinamos tudo. E... E... E... Fico até sem palavras para a minha frustração naquela época!

Minha amada noiva, hoje amadíssima esposa, veio com um papo de que armadores na sala não combinam. Que decepção! Onde eu iria tirar o cochilo ao meio dia? E aquele ventinho do pergolado? Puxa vida, tinha que implicar logo com os armadores da minha rede? Meu Deus do céu!!! Vale destacar que foi justamente naquele tempo que comecei a exercitar ainda mais as palavrinhas diálogo, renúncia, família, fazer o outro feliz, etc.

Tentei convencê-la, mas não teve jeito. Entendi que fazê-la feliz era o mais importante. Além do mais, eu tinha escolhido as cores da casa. Isso mesmo, no início era multicor. Casa típica daquele povo que gosta das cores porque parecem evidenciar algo novo. E ainda coloquei uma espécie de brilho sobre a tinta que deixou as paredes com aparência de pão doce saído do forno (hahahaha). Como é bom a vida em família... Como é bom reviver esses momentos!

Tive que me contentar com a rede nos quartos, na área de serviço, na garagem, mas... o sonho da sala grudou em mim como nódoa de caju em roupa branca. Não era pra menos, pois o nosso quarto sempre foi muito quente e eu nunca conseguia estirar as pernas na rede como de costume (sou daqueles que se deitam "enviesados"). Assim se passaram 12 anos e 4 meses.

AGORA UMA BREVE PAUSA NA REDE E VAMOS A PINTURA DA CASA... VOLTAMOS EM BREVE!
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Nas férias de 2017 resolvi fazer alguns pequenos serviços na nossa casa no Rancho São José. Eu e meu sogro tivemos que consertar algumas paredes por causa da caliça e aproveitamos a oportunidade e pintamos a parte externa da casa. Esta tinha sido pintada a quase 6 anos. Azul bem clarinho, quase branco, cor que lembrava o manto de Nossa Senhora.

"Vamos pintar que cor minha filha?", perguntei a minha esposa. "Dessa vez eu preferiria um marrom bem clarinho", respondeu. Fui na cidade e comprei cal e um tubo de pigmento marrom, mas aquela junção não iria dá certo. Aquele pigmento é próprio para tintas a base d´agua, não necessariamente a cal. Voltei a cidade. Dessa vez para comprar um latão de tinta a base d´agua. Já que seria mais caro, eu decidira comprar o azul bem clarinho. Pesquisei em duas lojas e nada. Das opções disponíveis, tinha uma cor amarronzada, tipo areia, ou melhor, o nome da tinta é areia. Ah, é marrom como Adélisan queria. Comprei e começamos a pintar. Já no início da pintura, vi que os olhos de minha esposa começavam a brilhar vendo as paredes mudarem de cor... Isso para mim era suficiente! 
Todavia, chega a primogênita e pergunta porque não estou pintando com a cor azul claro, já que é a cor que mais gosto, além da questão do manto de Nossa Senhora. Respondi imediatamente que aquela cor era a preferida de sua mãe. Isso foi o bastante para que aquela moleca fosse questionar sua mãe e ao mesmo tempo (tem cabimento um negócio desse?) dizer que aquela cor não combinava com a casa do sítio e tudo mais. Alguém pode estar pensando: De novo essa história de combina ou não combina? O fato é que se combinava ou não, a filha ficou chateada com a mãe porque esta preferia o marrom da areia ao invés do azul do céu do pai. 

Mas como numa família em o céu deve chegar a terra e a família na terra precisa se esforçar para chegar ao céu, chamei aquela garotinha de 11 anos num canto e disse: "Preste atenção no que vou falar. O que importa não é a cor da parede, mas a alegria do novo em nossas vidas. Você pode estar perguntando: Como assim papai? O novo que deve existir na vida de um casal, como eu e sua mãe. O novo de aprender a renunciar suas próprias vontades e gostos para ver a alegria do outro. Minha filha, eu estou apenas tentando fazer sua mãe feliz! Isso para mim, basta! Entendeu?" Foi esse o mini sermão. "Entendi papai", respondeu aquela adolescente mirim ainda com a cara meio emburrada. "No final você vai até achar legal o resultado", finalizei a conversa.

E realmente ficou legal. Opa, não sei se você concorda, mas nós gostamos. E mais: aprendemos mais uma lição sobre a vida em família, não é mesmo?

VOLTEMOS A REDE, OU MELHOR, A HISTÓRIA DA REDE...
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Na semana seguinte ao serviço no Rancho São José, eu e meu sogro fizemos quase o mesmo em nossa casa. Dessa vez, pintamos a casa toda, as portas e tudo mais. Entretanto, num dos dias do serviço, retomei a conversa sobre a rede, os armadores... Já imaginava a resposta da minha querida designer-arquiteta-paisagista-esposa-mãe que é pedagoga de formação. Ela certamente diria: nã... Rede na sala não combina, mas... mas... mas...

PERAÍ!!!

Simplesmente, sem me avisar nem me dá tempo de se preparar psicologicamente, ela disse que dava certo colocar armadores na sala. Puxa vida! Bingo! Gol! Vocês devem estar imaginando o meu sorriso de incredulidade e a alegria que me invadiu naquele dia. Desculpem o exagero, mas escrever sobre essas coisas é complicado. Sempre imagino que não consigo descrever as cenas e os sentimentos como gostaria... Também não é para menos, sou apenas um leitor e admirador de Machado de Assis, apenas isso.

Meu sogro furou as paredes; fui comprar os armadores e então, no final da manhã, eles já estavam "sentados" nas paredes da sala. Agora era segurar a ansiedade para a estreia no dia seguinte ou de acordo com a cautela do pedreiro, apenas 48 horas depois do serviço. Ufa! O que são 48 horas diante de 12 anos e 4 meses? Isso é nada!

Passado esse curto prazo (confesso que em alguns momentos pareceu longo - ehehehe), deitei na rede com um bom livro e sorri... Parecia pinto no lixo! Ela olhou para mim e também sorriu... As crianças sorriram... Meus amigos se divertiram com a história, pois conheciam essa "odisseia". Passados mais de quinze dias de tal façanha, já dormi várias vezes na rede na sala sentindo o ventinho do pergolado. A filha mais nova também já se deitou na outra rede. Isso mesmo! Na sala agora tem espaço para duas redes! D U A S! Lógico que pensei também nela. Coisas típicas de um casal que se ama.
Por fim, o que dizer de tudo isso? Que a vida conjugal é construída de diálogos, de renúncias, de sorrisos e lágrimas, de situações que nos levam a refletir que sempre valerá a pena fazer o outro feliz. Foi para isso que nos casamos e selamos diante de Deus tal compromisso. O valor do matrimônio é tão sublime que nunca conseguiremos entendê-lo em sua plenitude. Assim, podemos não só admirá-lo, mas nos esforçarmos para experimentar as graças que o Senhor derrama nos corações que desejam ser fieis um ao outro e primeiramente a Deus.

E se alguém me perguntar se valeu a pena esperar 12 anos e 4 meses pela rede na sala, direi: Lógico que sim! Minha esposa, como sempre, me surpreendeu e me fez ainda mais feliz... Pois sei que antes de dizer que os armadores na sala combinam ou não, ela me dirá que me ama.

E você? Quantos armadores faltam na sua sala? Está precisando de uma nova pintura na parede da casa? Confie em Deus e na Sua divina Providência! E não se esqueça: aprenda e experimente dialogar, renunciar e fazer o outro feliz.

Danilo e Adélisan (e seus filhos)

2 comentários:

Unknown disse...

Parabénas ao grande poeta seridoense. Danilo, orgulho da família.

Taíse disse...

Que coisa linda, concordo demais com cada detalhe, cada palavra e cada atitude, Deus abençoe sempre o matrimônio de vcs 🙌