domingo, 30 de junho de 2013

Sobre a Telex Free - como um cristão deverá se comportar

Pedi autorização ao meu amigo Petterson José para publicar neste blog seu excelente artigo sobre o marketing multinível que está "na moda". Desde já parabenizo Petterson pela sobriedade na sua explanação. Deus o abençoe sempre!
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Motivado por uma amiga e pedindo a graça do Espírito Santo, resolvi pensar um pouco a respeito da Telex Free e seus métodos de trazer às pessoas algum lucro, e se essa realidade é boa ou não para um cristão. Antes de tudo, gostaria de dizer que esse texto é direcionado especialmente para muitos irmãos de caminhada que se veem perdidos, sem saberem se podem ou não entrar nesse tipo de sistema que, supostamente, vende um determinado tipo de Prestação de Serviço VOIP - Voice over Internet Protocol – ao mesmo tempo em que traz um retorno financeiro através de um suposto Marketing multi-nível, exigindo da pessoa que divulgue o programa em sites de classificados ou inclua outras pessoas em sua rede, ampliando consideravelmente os seus ganhos. Trata-se de um texto um tanto quanto longo, que exigirá de você, pelo menos, uma boa intenção de analisar junto comigo os argumentos que estou expondo. De coração aberto, então, você poderá dizer se vai ou não entrar.

“Com sofrimento tirarás do solo o alimento todos os dias de tua vida. [...] Comerás o pão com o suor do teu rosto, até voltares ao solo, do qual foste tirado.” (Gn 3, 17c.19)

A princípio, não é ilícito ao homem qualquer trabalho que seja digno ou lhe traga lucro. O lucro não é mal em si mesmo. Nós cristãos devemos ter a compreensão de que os frutos da terra não são um mal em si mesmo. Considerar as coisas um mal em si mesmo é puritanismo protestante. Sempre trouxe no meu coração que o trabalho dignifica o homem, sobretudo, pelo mandato divino de tirar do trabalho um bem material e espiritual ao mesmo tempo. Do trabalho tiro a manutenção do meu lar, sustentando minha família, bem como retiro os bens espirituais necessários à minha salvação.
 

São Josemaria Escrivá, santo fundador da Opus Dei, cuja festa litúrgica a Igreja celebra no dia 26 de junho, deixou-nos um exemplo de como o trabalho é capaz de levar o homem a Deus. Sendo assim, o Opus Deis promove entre fiéis cristãos de qualquer condição uma vida plenamente coerente com a fé nas circunstâncias correntes da existência humana e especialmente através da santificação do trabalho.
 
Diz-nos São Josemaria Escrivá: “Deus criou o homem para trabalhar. Viemos a chamar de novo a atenção sobre o exemplo de Jesus que, durante trinta anos, permaneceu em Nazaré a trabalhar, desempenhando um ofício. Nas mãos de Jesus o trabalho, e um trabalho profissional similar ao que desempenham milhões de homens no mundo, converte-se em labor divino, em trabalho redentor, em caminho de salvação.” [1]
 
Portanto, o trabalho não é algo necessariamente que traga sofrimento, mas sim, santidade. Como seria bom para os homens de todos os tempos compreenderem essa verdade de Deus. Deus sempre quer nos salvar. E se o homem pecou em Adão, Deus concedeu uma nova forma de salvação: o trabalho.
 
Jesus mesmo nos deixou seu exemplo, trabalhando cotidianamente para ajudar no sustento da família de Nazaré. Durante a maior parte de sua existência pregou cadeiras, lixou madeira, fez mesas e outros objetos do uso comum dos lares. O Trabalho é digno pois foi dado por Deus. Contudo, nem sempre o homem reconhece o valor do trabalho e dos méritos retirados dele dia após dia. O homem quer sempre comprar o favor e a graça divina, não compreendendo que essa é gratuita.

“Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6, 21)

Entre os grandes males advindos da recusa do homem a Deus, estão aqueles a quem a Igreja denomina de Pecados Capitais. Que não são pecados necessariamente, mas como vícios que nos impulsionam a cometermos pecados pessoais, além de se opor às virtudes que nos fazem ir até Deus. Entre esses pecados, encontramos o Pecado Capital da Avareza. Nós podemos e devemos desejar as coisas boas da vida, e que essas coisas nos ajudem a sermos felizes e a compartilharmos com os irmãos. Mas as más paixões que trazemos no coração, às vezes, nos fazem amar imoderadamente essas coisas. Um exemplo disso é o dinheiro.
 
 O dinheiro pode nos ajudar a trazer a felicidade, através de uma boa administração. Só administra bem uma grande quantia, quem consegue administrar uma pouca quantia. Se você ganha apenas um salário mínimo, e possui enormes dificuldades de administração, também terá enormes dificuldades se passar a ganhar 100 salários mínimos.
 
A avareza corrompe nosso modo de proceder e julgar corretamente a melhor forma de utilizar essa ou aquela quantia. Nesse sentido, os lucros obtidos com o Telex Free ou qualquer outro meio – inclusive o trabalho – não serão proveitosos para você; não adianta querer ganhar o máximo quando não sabe usar o mínimo. Colocar o tesouro no Dinheiro é perder a salvação eterna. Diz-nos o Catecismo da Igreja que “todos os fiéis de Cristo devem ordenar retamente os próprios afetos, para não serem impedidos de avançar na perfeição da caridade pelo uso das coisas terrenas e pelo apego às riquezas, em oposição ao espírito de pobreza evangélica”.[2]

“O avarento nunca se fartará de dinheiro” (Ecl 5,9)

Amar muito o dinheiro e querê-lo a todo custo não é um bom meio de se obter a felicidade. Pois o coração do homem que, nessa condição, estará inclinado quase a uma idolatria do TER, nunca se saciará. Ele quererá sempre mais, e quanto mais desejar mais se utilizará de meios menos corretos para obtê-lo. 

Com todo o respeito a quem entra no Telex Free, mas como é chato estar perto de uma pessoa que adentrou nessa empresa. Como tem sido difícil ser atendido nas lojas e repartições públicas com os seus funcionários só falando nisso e tentando te convencer também a entrar. “Por favor, me atenda! Não gostaria de entrar no Telex Free? Não! Gostaria de comprar apenas uma caneta!”.
 
Se nós Cristãos tivéssemos esse ímpeto, já teríamos evangelizado a TODOS. Aliás, o ímpeto das pessoas que fazem parte do Telex Free e similares em convencer os outros é quase superior ao de São Francisco de Assis em reconstruir a Igreja. Entre essas e outras questões, é que eu, pessoalmente, não entro e nunca entrarei em sistemas que prometem dinheiro fácil. Dinheiro fácil, pra mim, não é coisa de Deus, não me traz nenhum mérito e, com certeza, não me trará felicidade. Triste de se ver pessoas que estão vendendo pequenos bens como motos, carros e até suas casas, adquiridos em anos de sacrifício e de trabalho, para arriscarem uma falsa felicidade. Triste de se ver pessoas deixando seus empregos e iludirem-se com a falsa promessa de ganhar dinheiro em casa.

Se todos fizerem isso, se todos ficarem em casa e ganharem sem trabalhar, de onde virá o dinheiro? Esse é o meu pensamento; e o seu? Bem, que a sua consciência lhe diga!

“De fato, que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida?” (Mt 16,26)

[1] http://www.pt.josemariaescriva.info/artigo/opus-dei-1
[2] Catecismo da Igreja Católica, n. 2545.

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