Belo artigo da nossa querida amiga e prima Ir. Patrícia do Instituto Hesed:
“Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão."
Ainda
que os meses passem, que os anos avancem, como esquecer o sentimento
que nos invadiu desde o dia 11 de fevereiro? Por dias lutamos bravamente
para não permitir que a falta de confiança, a angústia e o medo
provocados pela renúncia do então sucessor de Pedro não encontrasse
abrigo em nossos corações.
O fato de termos sido comunicados
alguns dias antes a respeito da renúncia de Bento XVI não diminuiu sobre
nós o impacto dos acontecimentos do dia 28 de fevereiro. Este foi sem
dúvida um dia incomum; a nossa geração passa pela experiência de um
acontecimento ímpar nos últimos séculos da Igreja, experiência esta que
milhares de nossos antepassados não viveram, mas que não deixará de ser
recordada às futuras gerações.
A frase acima retirada da Liturgia
das Horas, de uma homilia a respeito do Sábado Santo, traduz bem o
estado de milhares de cristãos católicos espalhados em todo o mundo que
estiveram acompanhando a saída de Bento XVI do Vaticano até a troca de
guarda e o fechamento dos portões em Castel Gandolfo no último dia 28.
Ao término de todo aquele rito, o fato é que, desde que os portões de
Castel Gandolfo foram fechados, o rebanho de Nosso Senhor Jesus Cristo
estava e permanece sem um pastor nesta terra; a Igreja de Cristo vive
nesses últimos dias sem um sucessor de Pedro, a quem fomos confiados.
Embora
confiando em Bento XVI e acolhendo a sua decisão, foi impossível
durante a sua despedida não ouvir comentários de fieis esperançosos de
que ele voltasse atrás, e na Praça de São Pedro e em todo o mundo houve
quem derramasse as suas lágrimas desejosos de que a renúncia do Sumo
Pontífice da Igreja Católica fosse apenas um sonho ruim, daqueles dos
quais se acorda e pode-se dizer aliviado: “Ufa, foi apenas um
pesadelo!”. Não, a renúncia de Bento XVI é real.
Não obstante
esse nó na garganta, uma força maior nos impele a continuar confiando
nos desígnios divinos. Foi a mão do Senhor que nos guiou até aqui e é
esta mesma mão divina que continua a guiar-nos. Assim como a Virgem
Maria que naquela sexta-feira sofreu aos pés da Cruz, sentiu-se só,
segurou em seus braços um Deus morto, suportou o silêncio e a solidão do
sábado, isto porque trazia dentro de si a total confiança nas palavras
do Senhor. A Virgem Maria sabia que veria a glória de Deus! Sigamos,
portanto, os passos da nossa Mãe, que não nos deixa nunca.
Até
então, falamos da nossa dor. Mas e o que falar de Bento XVI? Durante
todos estes dias, especialmente no dia 28 do mês passado, foi impossível
olhá-lo e não recordar de Jesus a caminho do calvário: o homem das
dores, experimentado no sofrimento; foi maltratado e resignou-se, não
abriu a boca. Talvez não por outra razão afirme BentoXVI
permanecer muito próximo a Jesus crucificado, embora agora de outra
maneira. E as semelhanças não param por aqui: Jesus fala para os seus
que ninguém lhe tira a vida, mas Ele a entrega livremente. Depois de um
pontificado marcado também por traições e calúnias, e não obstante as
intensas chacoalhadas na barca de Pedro, ninguém lhe tira o poder do seu
ofício, mas Bento XVI o entrega, por amor e obediência a Deus.
Apesar
da tensão do momento, a serenidade estampada no semblante do então Papa
surpreendeu o mundo. Cansado, ou melhor, visivelmente exausto, mas em
paz consigo, com aqueles que permaneceram fieis à Igreja, e acima de
tudo, em paz com o seu Senhor. Tamanha serenidade resulta da
conformidade da sua vontade a vontade do Pai, no entanto, não se pode
olvidar que esta tenha sido precedida da agonia no Horto das Oliveiras.
Bento XVI não pode ter tomado uma decisão deste porte sem ter
experimentado antes a angústia suprema do Getsêmani, marcada pela
solidão, pelo abandono dos seus, pelo medo de não ser compreendido, pelo
ter que suportar o martírio midiático que viria, pelo preço de ser
apontado como um covarde, um desertor. “Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua”. (Lc 22, 42).
Não
é fácil para um verdadeiro Pastor ter que deixar os seus; teme-se pelo
rebanho. Mas, se é a vontade de Deus, que assim seja. Sentimos nas suas
últimas palavras aquela mesma mensagem deixada pelo divino Mestre: “Não
vos deixarei órfãos” (Jo 14, 18). Entregaste sim o poder do ofício de
Sumo Pontífice da Santa Igreja, já não é mais o sucessor de Pedro, um
título e um encargo que pode ser deixado para trás; mas a paternidade é
algo de que o senhor não pode se desfazer.
Durante estes oito
anos de pontificado, aprendemos a ser teus filhos, aprendemos a amá-lo, a
confiar em ti, a respeitá-lo por tudo quanto fez e nos ensinou com as
palavras e com o exemplo de sua vida. E é por isso e por tudo o que o
senhor ainda fará pela Santa Igreja que podemos dizer que “perdemos” um
Papa, mas continuamos tendo um pai.
Bento XVI, ao senhor a nossa
mais sincera gratidão! Deus lhe pague por tudo! E aos nossos irmãos na
fé, força e coragem como nos ensinou este homem de Deus. Não paremos,
porque mais do que nunca é preciso prosseguir. Aliás, foi essa a sua
última ordem: “Vamos em frente, juntamente com o Senhor, para o bem da
Igreja e do mundo”! (Bento XVI)
Ir. Patrícia, I.H. (fonte: http://www.institutohesed.org.br/)
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