quarta-feira, 2 de maio de 2012

Partilhas de Madonna House (VIII)

Queridos Amigos,

Cristo ressuscitou!! Verdadeiramente Ele ressuscitou!!

Neste tempo pascal queremos ainda desejar a cada um de vocês uma Feliz Páscoa! E hoje dia do trabalho estamos unidos a cada trabalhador(a) rezando para que o Senhor nos dê forças para o trabalho de cada dia. Rezamos também por todos aqueles que não podem trabalhar seja por uma razão ou outra… Doença, desemprego, idade… Não podemos nos avaliar somente pelo que produzimos… Catarina dizia  « não é o que fazemos que conta, mas é o que somos que conta ». Ela falava muito da doença chamada « produtinite », isto é, a doença de  avaliar as pessoas e a si mesmo pela produção… Se eu produzo muito, então eu tenho valor, se eu produzo pouco, então eu não tenho valor. Mas afinal, como diz São Paulo na carta aos Coríntios, o que conta é se vivemos o dia com amor no nosso coração. E assim nós vamos ao nosso coração, a esta terra de missão e desolação e deixamos que Deus nos purifique. O Espírito Santo vai procurando nesta terra desolada a pérola perdida, Ele vai abrindo e alargando o nosso coração e vai nos chamando a uma maior fidelidade ao Pai e à Sua vontade. A primeira terra de missão é o nosso coração.

A  Igreja celebrou no segundo Domingo de Páscoa a festa da Misericórdia… Como muitos de vocês já sabem, esta festa foi instituída por João Paulo II seguindo um pedido de Jesus revelado a Santa Faustina na Polônia… No fim da quaresma Madonna House teve a honra de ser convidada a pregar um retiro na Polônia e nós enviamos uma equipe da comunidade constituída por um padre; um leigo e uma leiga consagrados. Enviamos nesta Partilhas uma foto do Pe. Wild que é o padre de Madonna House que foi enviado para pregar o retiro. Na foto ele está celebrando a Missa em um altar do Santuario da Misericórdia em Cracóvia onde a Santa Faustina viveu muitos anos.


Em Madonna House, o chamado à hospitalidade do coração, o acolhimento da misericórdia e o seu exercício são essenciais para nossa vocação. Mas acolher a Deus e ao nosso próximo na profundidade de nosso ser, exige que nosso coração seja evangelizado em sua profundidade. Aos poucos Deus vai revelando partes de nós mesmos que ainda não acreditam e não confiam plenamente Nele… partes de nós mesmos que ainda não se entregaram plenamente ao amor e à verdade… partes de nós mesmos que O rejeitam e que se rebelam contra Deus. Mas esta revelação de nós mesmos vem acompanhada pela infinita ternura de Deus que nos banha em Sua misericórdia. E ao receber a misericórdia de Deus nós somos chamados a entrar no coração de nosso próximo e lá derramar a misericórdia e compaixão que nós recebemos. “Vá ao fundo do coração dos homens; Eu estarei com você”, diz o mandato que Catarina recebeu de Deus para Madonna House.
 
Partilhando estórias da Catarina

Marta – “Mãos de Trabalho”

 
Um dia eu estava reparando nas mãos grossas da Catarina. Ela realmente tinha mãos de uma trabalhadora. A gente podia ver nelas o trabalho da roupa limpinha, do chão encerado, da louça lavada, da horta verdinha. Naquele dia eu segurei a mão dela com muito carinho… E aquelas mãos quentinhas, cheias de calo, abraçaram as minhas. A Catarina viu que eu estava sentindo com a minha mão os calos na mão dela. Ela disse que tinha mãos de trabalhadora, mas que os calos na mão dela eram nada comparados com os calos de Marta. Foi então que ela me contou a estória de Marta –“mãos de trabalho”.
 
Marta chegou em um dia de chuva. Sua pele brilhava negra, ela estava toda molhada. Eu ofereci a ela um café bem quente e uma toalha para ela se enxugar. Ela esfregou a pele molhada com a toalha e tomou o café devagarinho. A língua dela estalava com cada gole de café, a dentadura frouxa na boca.


Quando a caneca de café se esvaziou, ela começou a falar. Suas mãos gesticulando falavam também… Elas mexiam no ar atraindo a minha atenção. Parecia que ela trazia leve nas mãos anos e anos de serviço pesado. Aquelas mãos davam piruetas no ar como que brincando e rindo em meio à dor e ao suor de muito trabalho. E com suas mãos de trabalho, ela tirou um dinheirinho do bolso e disse que era para a sopa dos pobres. 


Eu recebi com alegria aquele dinheiro suado que Marta me deu. Ela me disse que trabalhava como faxineira, mas que no seu dia de folga ela ia vir nos ajudar a limpar a casa. E o sorriso dela se iluminou quando se despediu apertando a minha mão.


Passou uma semana certinho e Marta voltou. Ela limpou todos os cantos da casa, rápida no serviço como alguém que sabe o que está fazendo. Parecia que suas mãos mágicas descobriam em cada cantinho a sujeira escondida. Terminada a limpeza, ela tomou um banho, sentou-se conosco e engoliu a sopa com colheradas de quem tinha fome. Quando ela foi embora, mais uma vez suas mãos tiraram do bolso umas moedas e me deram alegria.


Toda semana Marta vinha e limpava a casa, tomava sopa e de quebra me dava uns trocados. A gente se acostumou com a alegria de ver Marta em casa uma vez por semana… Mas de repente ela desapareceu…Sumiu e eu não sei o que aconteceu. Eu nem sei o sobrenome dela. Mas ficou para sempre em mim o carinho de suas mãos mágicas, limpando, voando rápidas no ar…Será que foi minha imaginação ou de fato ela apertou minha mão mais longamente quando ela se despediu da última vez?... Será que ela sabia que jamais aqui voltaria? Naquele dia ela me deu um dinheiro extra. Não era muito dinheiro, mas era um pouco mais do que ela costumava me dar. Desde aquele dia eu não posso me desfazer da idéia de que ela me  deu tudo que ela tinha para viver.
 
(adaptado por Cristina Coutinho do original “Quatro moedas sujas” , Catarina de Hueck Doherty, “Em Parábolas”,  Paulinas,  1997)

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