segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Partilhas de Madonna House (IV)

Queridos Amigos,

Dois meses já se passaram desde as últimas Partilhas... Em nossa casa mãe no Canadá estes dois meses é um tempo de muita atividade, pois é pleno verão no hemisfério norte. Nossa fazenda em Combermere ocupa muitos dos nossos membros durante o verão. Dora (Andorra) que viveu no Brasil já está a postos na horta de ervas medicinais e para tempero na nossa fazenda em Combermere. Menta; hortelã; salsa;orégano; cebolinha; etc... Só de pensar dá pra sentir o cheiro gostoso que emana desta horta. A Eliana também está trabalhando na fazenda... Ela faz parte da equipe que prepara as conservas. Pasta de tomates; compota de maçã; compota de pera; suco de maçã; etc. Durante o inverno tudo isto vai ser usado pela cozinha na casa-mãe. Como muitos de vocês já sabem, Eliana é brasileira, de Salvador, e ela mora em Combermere há já mais de 5 anos.

A Catarina, nossa fundadora, desejou ter esta fazenda desde os começos da comunidade em Combermere. Ela achava que o homem está se distanciando da terra e que esta distância está ferindo ambos: o homem e a terra. Quantos de nós raramente tocamos a terra com nossas próprias mãos...  Houve uma pessoa que veio na nossa fazenda e não sabia reconhecer um certo animal diante dela... O animal era uma vaca! Uma vez, um rapaz estava passando um tempo conosco e alguém pediu para ele ir na horta e trazer umas cenouras. Ele foi na horta mas voltou de mãos vazias pois ele não encontrou as cenouras. Quando alguém foi com ele na horta, ele quase caiu pra trás ao saber que as cenouras estão debaixo da terra... Sim, são casos extremos. Mas será que as crianças de hoje sabem de onde vem a comida que está disponível na mesa? Muitos pensam que a comida vem simplesmente do supermercado.

Será que é mais difícil de viver um amor encarnado neste mundo do virtual?  Será que o fato de não tocarmos a terra nos torna mais insensíveis uns aos outros? Será que esta desencarnação nos torna estrangeiros à nossa terra mais profunda, ao nosso homem interior? Jesus deu tantos exemplos concretos de amor encarnado... E, em alguns casos de cura, Ele tocou a terra, Ele tocou a pessoa...  

Vocês acham que é romântico pensar que o contacto com a terra pode levar o homem a uma comunhão consigo mesmo, com a humanidade e com Deus? Uma fazenda apostólica? Sim, foi esta a idéia da Catarina.  Ela escreveu um livreto sobre isto, mas infelizmente este livro não está disponível em portugues... Em inglês o título deste livreto é “Apostolic Farming” e em francês é “La Ferme Apostolique”...

Partilhando estórias da Catarina
Esta estória foi contada em um grupo reunido para discutir a perspectiva de Madonna House para uma expiação da maneira como a terra está sendo ferida pela ganância do homem. A discussão evoluiu a partir da leitura do livreto “A Fazenda Apostólica”escrito pela Catarina e então alguém contou a estória de Joaquim...

Esta é a estória de Joaquim, menino do interior. Desde muito pequeno, Joaquim gostava de brincar com a terra. Ele ia para o quintal caminhando com os seus passinhos ainda inseguros, e com a sua mão pesada, em concha, ele voltava para casa e dava à sua mãe um  punhado de terra, como se aquilo fôsse o maior presente do mundo. Quando mais grandinho, Joaquim aprendeu a plantar sementes que brotavam em flores, em folhas, em frutos gostosos.

Frei Zacarias, era o padre da Igreja aonde Joaquim ia com sua mãe todo o domingo. Chuva de ensopar ou sol de rachar, Joaquim ia com a mãe, andando mais de uma hora para chegar na cidadezinha onde o padre celebrava todo domingo. Frei Zacarias tinha um hábito marrrom, cor de terra fértil, e os olhos azuis da cor de céu desanuviado. O coração de Joaquim sempre pulava alegre quando ele via Frei Zacarias, principalmente porque depois da missa, o padre pedia ao menino para aguar a horta detrás da Igreja. Era assim porque as pessoas queriam conversar com o padre e Joaquim já sabia que ele precisava de alguém para aguar a horta.

Por que será que a couve, a alface, espinafre, tudo verdejava diferente na horta de Frei Zacarias? E o gosto da cenoura era tão doce na boca, sem falar no rabanete e jiló que, mesmo sendo amargo, amargava sem estragar a garfada da salada do domingo que a mãe preparava com os presentes da horta da Igreja.

Em dia de domingo de chuva, Joaquim ia assim mesmo ver a horta. A chuva brincava com as folhas e pingava mansa ou forte na terra, que de boca aberta matava a sêde de muitos dias. Joaquim sempre abria os braços para receber o abraço de Frei Zacarias, e ele não sabia como, mas aquele abraço sempre lembrava a ele da chuva molhando a terra sedenta.

Teve um dia em que Frei Zacarias foi visitar o povoado em que Joaquim morava com a sua mãe. Ele foi entrando, depois de bater de leve na porta da casa do menino. Que surpresa! Os olhos azuis do frei encontraram os olhos do menino admirado de vê-lo lá. A mãe passou um café novo e disse para o menino buscar o gerânio que ele tinha plantado há um tempo atrás. O gerânio estava tão bonito, que Joaquim encheu o peito ao trazê-lo para Frei Zacarias. Os olhos azuis contemplaram as flores e o menino. Então o padre disse que aquela planta pertencia ao Pai do Céu! Tudo dentro de Joaquim gritou não!!! Ele tinha plantado e cuidado dos gerânios; como é que podia ser que aquela planta não fôsse dele mesmo. Frei Zacarias, com o rosto entristecido, viu no menino  o “segredo da terra ferida.”

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